Cláudia Cardinale

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Ícone de beleza e uma das grandes divas dos anos 60 e 70, Cláudia Cardinale, com 82 anos, iniciou o seu percurso na Tunísia mas foi sob a bandeira tricolor que alcançou o estre­lato e o reconhecimento como uma das grandes actrizes da idade de ouro do cinema europeu. Ao lado de nomes como Brigitte Bardo ou Sophia Loren, Cláudia Cardinale foi con­siderada uma das 50 mulheres mais bonitas da história do cinema mundial.

Cláudia Cardinale nasceu a 15 de Abril de 1938 no bairro de La Goulette, em Tunes (capital da Tunísia). Descendente de franceses e emigrantes sicilianos, que escolheram o então protetorado francês no norte de África para residirem, a pe­quena Claude nasceu num berço modesto.

Aqueles que a conheceram em criança descrevem-na como tranquila, um espírito livre que falava francês e árabe com os colegas da escola e que brincava alegremente nas ruas solarengas, bem longe do luxo e elegância que iria conhecer décadas depois. O siciliano era apenas uma recordação da longínqua terra dos seus pais.

Com apenas 18 anos, Cláudia era dona de uma beleza medi­terrânea única. Os seus olhos e cabelos negros fizeram com que ganhasse o concurso; A Mais Linda Rapariga Italiana na Tunísia. A sua participação nesta competição de beleza ocorreu por um mero acaso, já que tinha ido até a embaixa­da. com a mãe e quando deu por si tinha sido coroada a mais bela italiana a viver neste país do norte de África.

O acaso marcou sempre a vida e a carreira da jovem que viajou até ao festival de cinema de Veneza. Foi na cidade dos mil canais que enfrentou pela primeira vez a imprensa com o seu biquíni e hidajb típico, algo que chamou a atenção a todos, inclusive o produtor Franco Cristaldi, que procurava uma nova musa. Os convites para fazer cinema apareceram quase de imediato mas a representação não era o seu objetivo de vida principal. Esta paixão começou aos poucos e levou a que se muda-se em definitivo para Itália.

O sonho de Cláudia Cardinale tornou-a numa das mulheres mais conhecida Europa. A futura professora Claude deu ori­gem a actriz Cláudia, nome que iria fazer sonhar várias ge­rações. A tunisina de origem italiana e francesa acabou por seguir os mesmos passos de um dos nomes que mais marcou a sua adolescência, Brigitte Bardot. Aliás, Cardinale era vista por muitos como a resposta italiana ao fenómeno de elegân­cia protagonizado por BB.

Depois de ter deixado para trás terras africanas, Cláudia Car­dinale estudou artes dramáticas no Centro Experimental de Roma. O conto de fadas de Cardinale no grande ecrã começou ainda em 1958, com o seu primeiro sucesso na comédia I So­liti Ignoti. A jovem actriz, que era considerada por vários reali­zadores como a típica mulher siciliana, começou a sua carrei­ra enquanto outro grande nome vindo de terras transalpinas, Sophia Loren, transformava-se numa estrela internacional e na mulher mais conhecida do país.

A fama de Cláudia Cardinale chegou com filmes como O Leo­pardo; Rocco e os seus irmãos; onde teve a oportunidade de trabalhar com os mestres Federico Fellini e Luchino Visconti, os dois maiores realizadores do cinema italiano. Junto a eles, a namorada de Itália ganhou asas e eternizou o mistério que a rodeia esta efusiva atriz de voz rouca, jovial e sensual.

Sempre bem-humorada, Cardinale continua presente no ima­ginário colectivo de todos aqueles que viram as suas fasci­nantes personagens cheias de alma e coragem. Ao longo dos anos foi prostituta, santa ou uma romântica incurável. Mil mulheres no rosto de uma. No filme de Fellini, alcançou o estatuto de um dos maiores sex-symbols europeus, isto sem nunca recorrer a nudez. Com Fellini, que a via como a sua diva e com quem reaprendeu a conhecer-se, interpretou-se a si própria. Sem qualquer tipo de rodeios, foi o objecto da pai­xão e do desejo de Marcello Mastroianni. A dupla que fez com o galã italiano de sorriso irresistível arrancou os suspiros de todos. Esta interpretação fez com que as portas de Hollywood se abrissem. Na Meca do cinema foi alvo da atenção amorosa de alguns dos homens mais charmosos da época.

O reconhecimento internacional chegou com o clássico A Pantera cor-de-rosa; de Blake Edwards, protagonizado por David Niven. O britânico descrevia a sua colega de elenco como uma das melhores invenções italianas. Ao longo dos anos participou por mais duas vezes neste franchise cómico. Os figurinos usados por Cláudia Cardinale catapultaram-na ao papel de musa fashion. Nina Ricci, Roberto Capucci, Renato Balestra, Emilio Schuberth e Irene Galitzine foram alguns dos estilistas que vestiram a actriz que se destacou em géneros tão distintos como a comédia, o drama ou o western épico. Em Era uma vez no Oeste;, do realizador Sérgio Leone, foi elogiada pelo papel de uma ex-prostituta que se torna a principal rival, e interesse romântico, de Frank (Henry Fonda). Neste filme de­monstrou ser muito mais do que uma mulher bonita mas sim uma actriz de método. Inconformada por natureza e cansada com a sempre difícil indústria cinematográfica de Hollywood que a olhava como uma simples femme fatale, a italiana de­cidiu voltar para a Europa e para junto da sua família, um dos seus principais pilares.

Com 151 filmes e séries no seu currículo, e após uma breve passagem pelos Estados Unidos, estrelou várias películas dirigidas especialmente para o mercado italia­no e francófono. Em 1971, em As Petroleiras, dividiu o ecrã com a atriz que marcou a sua juventude e de quem ficou amiga, Brigitte Bardot. Ao lado da francesa prota­gonizou este western spaghetti sobre duas irmãs que voltavam à terra.

Cláudia Cardinale têm dois filhos: Patrick Cristaldi (fru­to de um violador desconhecido o que a levou a apre­sentar a criança durante muitos anos como seu irmão mais novo) e Cláudia, filha do diretor de cinema Pasquale Squitieri, com quem viveu mais de quatro décadas até a sua morte, em 2017.

Com uma carreira reconhecida internacionalmente pelas suas prestações únicas, a lendária actriz italiana ganhou alguns dos maiores prémios do cinema europeu, como é o caso do Urso de Ouro Honorário do Festival de Berlim ou o Leão de Ouro do Festival de Veneza. Em Portugal, a musa de Federico Fellini foi reconhecida com o Prémio Carreira do Festival Internacional de Cinema do Funchal. Vista como liberal e sempre interventiva em relação aos direitos das mulheres e dos gays, aqueles que não têm voz, Cláudia Cardinale é uma das embaixadoras da boa vontade da UNESCO e é uma ativista ecológica assumi­da. O tempo não pára para a inesquecível diva do cinema da idade do ouro. A lendária italiana aceita a sua idade com a compreensão e placidez de quem viveu uma vida inesquecível. Actualmente a viver em França, continua a trabalhar, especialmente com jovens realizadores em início de carreira.

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