Divas Dos Anos 80 Sophia Lauren E Jane Fonda

SOPHIA LOREN A DIVA DA IDADE DE OURO

Representante da geração de ouro do cinema mundial, Sophia Loren é uma das últimas grandes divas da sétima arte. Marcante e apaixonante, Loren entrou no imaginário mundial devido a sua beleza exótica e versatilidade. Mãe sofrida ou mulher vistosa. Nenhum desafio é demasiado grande para a actriz, que é considerada uma inspiração para Meryl Streep ou Daniel Day Lewis. Com 69 anos de carreira, a italiana é considerada uma das maiores 25 actrizes da história.
Numa era em que os estúdios eram muitos mais do que meras empresas de distribuição e os actores eram figuras marcantes que perduravam no tempo, uma diva vinda directamente de Itália marcou o seu nome em ouro. Ao lado de Elisabeth Taylor e Brigitte Bardot, a bela morena destacou-se nas décadas de 50 e 60 com produções que oscilavam entre a comédia e o drama. Mas tal como nos filmes que fazia, o final feliz é antecedido por momentos conturbados.
Há 85 anos atrás, Itália vivia sob o jugo de Benito Mussolini, nascia, em Roma, Sofia Villani Scicolone. Filha de uma professora de piano clássico e de um engenheiro da construção civil de ascendência francesa, a infância da jovem foi marcada por uma família destruída, já que o pai nunca cuidou das duas famílias e o dinheiro que a mãe ganhava a dar aulas de piano não dava para as sustentar.
Foi em Pozzuoli, pequena aldeia perto de Nápoles, que as irmãs Sofia e Maria viveram os primeiros anos de uma vida que foi marcada pela fome e pelo eclodir da II Guerra Mundial. A aldeia napolitana era um alvo frequente dos bombardeamentos aliados, que a deixaram com uma cicatriz no rosto e destruíram a casa da família materna, levando a que se abrigassem nos esgotos da aldeia para não dormirem ao relento.
Os anos passaram e Pozzuoli voltou a normalidade. As escolas voltaram a abrir, o céu nocturno perdeu os clarões das bombas e os Scicolone taparam os buracos deixados na casa da família. A avó, Laura, decidiu abrir um bar improvisado. Foi a servir licor aos soldados que a adolescente cresceu. Foi entre copos vazios e os cinemas improvisados que os americanos montaram que a jovem começou a sonhar com uma vida longe de Nápoles e dos horrores da guerra que viveu.
Com apenas 16 anos, a jovem, que o que mais queria era ter condições para sustentar a família, tentou a sorte no concurso Miss Itália. De pele morena, boca grande e olhar felino, Sofia esteve no lote das mulheres mais belas do país e que se apresentaram em Roma perante um olhar de um feroz júri que a considerou demasiado sexy. Mesmo não tendo ganho o concurso, voltar atrás não era opção. A sua vida e o sustento da sua família passavam pela cidade eterna e pela Cinecittà, a meca do cinema italiano. Com o nome Sofia Lazzaro, fez as primeiras figurações em produções como “Quo Vadis” ou “lui Era … si! sì!”.
SOPHIA

Sophia nasceu para ser a protagonista da sua vida, não apenas uma mera figurante. Quem pensou o mesmo foi o realizador Vittorio De Sica, que assim que a viu ficou completamente encantado e a convidou a fazer parte de “Ouro em Nápoles”, onde protagonizou uma das caminhadas mais famosas da história do cinema e onde o público pode ver o ‘diamante bruto’ que se apresentava perante o olhar de todos.
Em “La Favorita”, tivemos o primeiro papel de protagonista de Sophia Loren. Esta produção apresentou Loren não como uma promessa mas já como uma estrela pronta a brilhar perante a lente de Mário Matolli, o precursor do neo-realismo e que a dirigiu em “Duas Mulheres”. Depois de ter dado vida a belas mulheres, a actriz transformou-se para interpretar Cesira, uma mãe que tenta proteger a filha menor das desventuras da guerra. Com uma actuação comovente, e quem muitos aspectos reflecte a infância que teve no meio de bombardeamentos que não a deixavam dormir, arrecadou 22 prémios, sendo os mais sonantes a palma de ouro para melhor actriz no Festival de Cinema de Cannes e o Oscar para melhor intérprete feminina. Esta foi a primeira vez que um filme estrangeiro viu a sua actriz principal ganhar a apetecível estatueta dourada.
Depois de ganhar o maior prémio que uma actriz pode ambicionar, o ‘salto’ para os Estados Unidos foi o próximo patamar a subir na escadaria que a levou para um pedestal onde estão poucas actrizes. Em 1957 assinou um lucrativo contrato de 5 anos com a poderosa Paramount Pictures. Durante este período, a diva italiana fez parte de uma elite que marcou o cinema de Hollywood e que é recordado ainda hoje com muito carinho. “Casamento à Italiana” e “O Girassol” são duas películas que os críticos cinematográficos referem como alguns dos seus melhores trabalhos feitos durante a década de 60. Vista como uma sex symbol e um dos maiores símbolos culturais de Itália, Sophia Loren gozava de uma popularidade única e que teve na dupla com Marcello Mastroianni um dos seus pontos mais altos.
Mas a vida de Sophia Loren também tem pontos baixos e polémicas. Em 1979, o fisco italiano processou-a por, alegadamente, não ter pago ao fisco os rendimentos referentes aquele ano. Durante 37 anos este processo ‘correu’ nos tribunais e a actriz chegou a ser condenada a 18 dias de prisão. Várias décadas e recursos depois, foi declarada inocente. Este é um dos acontecimentos que sempre refere quando lhe perguntam em entrevistas sobre do que mais se arrepende.
Para ultrapassar todos os problemas que enfrentou, Sophia Loren teve no amor pela família um ‘porto seguro’. Com Carlo Conti Sr teve os seus dois filhos, Carlo Jr e Edoardo. Foi por eles que afastou-se da actuação e se dedicou mais a família. Perante a lente do filho mais novo, que tal como o pai escolheu ficar atrás das câmaras, vai protagonizar “La vita davanti a sé”. Depois de “Nine”, gravado em 2009, está assim marcado o regresso da actriz ao grande ecrã. Mesmo não trabalhando ao mesmo ritmo que em décadas anteriores, os fãs não esquecem a última das grandes divas, que em 1991 ganhou o segundo Oscar de uma rica carreira pontuada por inúmeros prémios e reconhecimentos em todo o mundo.
Considerada um tesouro vivo do cinema mundial, a bela italiana completou 85 anos no passado mês de Setembro. Mesmo com o passar dos anos, a última das grandes divas do cinema mundial contínua simpática e envolvente, encantando tanto colegas como o grande público que a continua a ver desfilar uma das últimas divas da Idade de Ouro do Cinema de Hollywood.

 

 

JANE FONDA UMA ATIVISTA DE CAUSAS

Quando recebeu o Oscar de melhor actriz em 1971, Jane Fonda não sabia indicar o Vietname no mapa. Um ano depois, a filha do também actor Henry Fonda viajou sozinha para Hanói e desde então tem-se destacado como uma activista de muitas causas. Mulher de garra, os 81 anos de vida não a impedem de estar na fila da frente de manifestações e de continuar a fazer aquilo que faz melhor: representar.
Nascida em Nova Iorque, em 1937, a representação sempre fez parte da vida de Lady Jayne Seymour Fonda, já que o pai, o irmão (Peter) e uma sobrinha decidiram dedicar as suas vidas a darem corpo às mais diferentes personagens.
Nasceu durante as gravações de “Jezebel”, onde o seu pai, o mítico Henry Ford representou junto à grande Bette Davis e até aos 13 anos a jovem teve uma vida confortável. Foi na entrada da adolescência que a mãe, uma socialite marcada por traumas de infância, cometeu suicídio após dar entrada numa instituição psiquiátrica. Aos dois irmãos, que eram muito protegidos pelo pai, nada lhes fora dito e a adolescente acreditou que a progenitora tinha morrido de ataque cardíaco, até ler a verdade numa revista de cinema. Este acontecimento ajudou a criar uma personalidade forte e contestatária, bem diferente do ambiente recatado que encontrou quando, com apenas 15 anos, entrou para a Greenwich Academy, um internato para raparigas.
Com cabelos loiros volumosos e silhueta longilínea, Fonda apareceu como modelo nas conceituadas revistas de moda “Vogue” e “Harper’s Bazaar” antes de se encontrar com Lee Strasberg, da Actors Studio. Foi o criador do ‘método’ que a inspirou a perseguir uma carreira na representação, primeiro entre as tábuas do teatro e depois nas grandes produções de Hollywood.
O seu primeiro grande papel foi em “Pelos Bairros do Vício”, onde deu assas a toda a sua sensibilidade no papel de uma prostitute tendo ganho o Globo de Ouro para melhor actriz promissora. Vista como uma das mais talentosas da sua geração, a promessa consagrou-se em realidade quando interpretou uma professora fora-da-lei em “A Mulher Felina”, uma comédia de estilo western que a catapultou para o estrelato com apenas 28 anos de idade.
Com um estatuto de sex symbol, a jovem Jane Fonda escolheu com muitos cuidado os seus papéis, tendo recusado “Bonnie e Clyde”, até encontrar aquele que lhe ia dar a tão desejada estatueta dourada. Em “Klute” deixou todo o seu dramatismo transparecer enquanto lutava pela própria vida fugindo de um assassino psicopata. Este foi o enredo que a levou até aos Oscares mas outra história começava a escrever-se a sangue.

 

A década de 70 ficou marcada com a guerra do Vietname. Enquanto as ‘estrelas’ de Hollywood desfilavam no Kodak Theatre, os soldados americanos matavam e morriam nas profundezas da selva. Inspirada por “Amargo Regresso”, filme que faz uma crítica feroz à guerra que se desenrolava e com o qual ganhou o segundo Oscar da carreira, Jane Fonda fez muito mais do que aprender a identificar Hanói no mapa e viajou sozinha para o meio de um sangrento conflito. As imagens capturadas, onde aparecia sentada sorridente sobre um canhão dos vietcongues, fizeram com que ganhasse o apelido de “Hanói Jane” e fosse vista como uma traidora pelo FBI.
Foi desta forma que começou a faceta de activista política. Para além de ser contra a guerra, Fonda também lutou pelos direitos dos nativos americanos e ‘abraçou’ o movimento dos Panteras Negras.
Para mudar a forma como era vista, pintou o cabelo de castanho e começou a gritar palavras revolucionárias. Muitos acreditaram que o romper com o rótulo de sex symbol e a cada vez maior voz política que tinha na década de 70 trouxeram-lhe alguns dissabores cinematográficos.
Em “My Life So Far”, biografia que escreveu em 2005, a actriz disse mesmo que a sua carreira tomou um outro rumo após se ter oposto publicamente contra o que acontecia no Vietname e como a comunidade negra era tratada no seu próprio país. A casa que dividia com o segundo marido, Tom Hayden, era paragem obrigatória para mendigos, hippies e activistas. Foi durante este período que a Campanha por uma Democracia Económica (CDE), organização de apoio àqueles que tinham menos recursos e lutavam para se manter numa América que ainda sofria com as feridas deixadas pela guerra do Vietname e a do Golfo.

A volta de Jane Fonda ao estrelato de Hollywood aconteceu, já na década de 80, com “Nine to Five”, um dos maiores sucessos de uma longa e variada carreira, repleta de distinções. Representar ao lado do pai sempre fora um dos sonhos da actriz, que conseguiu tal feito em “On Golden Pond”, película que produziu e protagonizou ao lado de Katharine Hepburn. Com este filme, os Fonda ganharam o Oscar para melhor actriz secundária e para o melhor actor.
Mulher de vários amores, a década de 90 trouxe uma nova paixão a Jane Fonda. A actriz activista encantou-se por Ted Turner, o milionário dono da cadeia CNN. Foi por ele que decidiu deixar a carreira de actriz de lado para se dedicar-se aos vídeos de ginástica aeróbica, uma das formas que encontrou para manter a beleza e vitalidade que sempre a marcaram. Mas se foi ao lado de Ted Turner que desfilou na passadeira dos Emmys, também foi por causa dele que abraçou o feminismo e juntou-se ao movimento MeToo tendo admitido que tinha sido violada em criança e que também sofreu represálias por ter recusado o chefe.
Sem complexos, fundou uma organização para reduzir o índice de gravidez em adolescentes, já que os Estados Unidos são um dos países do mundo com maior taxa de mães com menos de 18 anos. Sempre próxima dos grandes círculos políticos, a galardoada actriz foi uma fervorosa apoiante de Hillary Clinton nas últimas presidenciais norte-americanas e tem demonstrado todo o seu descontentamento em relação a administração de Donald Trump, que acusa de ser intolerante com os imigrantes e com o aquecimento global.
As questões climáticas sempre tiveram um carinho especial no coração de Jane Fonda que mesmo com 81 anos continua a participar em manifestações. Em frente do Capitólio, com um icónico casaco vermelho, que emprestou a uma mulher que estava com frio, a polícia de Washington deu-lhe voz de prisão. A quarta vez no espaço de um mês. Nesse mesmo dia, a actriz deveria comparecer no Beverly Hilton, para receber, na celebração anual dos BAFTA LA, o Troféu Stanley Kubrick por excelência no cinema.
Actualmente Jane pode ser vista na série da Netflix “Grace and Frankie”, produção que vai para a quinta temporada e tem estado a quebrar vários tabus, que retrata os conflitos daqueles que chegam à terceira idade. No que toca às causas a defender, essas nunca serão demais para uma mulher que independentemente da idade continua a arranjar forças para lutar por aquilo em que acredita.

 

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