Sweet Margarita

Sweet Margarita

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Desde tenra idade que ela faz de Portugal a sua casa. Foi em terras lusas que aprendeu a amabilidade de bem receber e foi onde Margarita Pugovka se iniciou no mundo da Moda, ao ser abordada num processo de scouting. Desde então, tem fotografado para os principais nomes da imprensa nacional, desfilado para criadores de renome e figurado campanhas publicitárias com destaque internacional. Da alta-costura à alta-doçaria, Margarita é também uma Chef de pastelaria com cada vez mais notoriedade no mercado da culinária.

Apanhar borboletas, trepar às árvores e esconder-se nos campos dos avós na Letónia, onde nasceu e cresceu até aos 8 anos, são algumas das memórias que Margarita Pugovka guarda da sua infância. Sem saber, já naquele tempo apreciava uma das áreas que, mais tarde, viria a ser uma das suas paixões, à qual dedica parte da sua vida profissional atualmente: a culinária. Interessava-se pelos produtos frescos e relembra o cheiro a comida que crescia e se espalhava pela casa dos avós, o cheiro que abraça o estômago e nos transporta para o conforto do lar.

Carregada de boas memórias, mudou-se para Portugal quando os pais decidiram emigrar para terras lusas. Relembra que foi por cá a primeira vez que viu laranjas a crescer na rua e que foi quando aprendeu a receber a afabilidade das pessoas.

Entre a sua chegada a Portugal e a entrada no mundo da Moda, a distância temporal foi curta. Aos 15 anos, foi desafiada pela agência Central Models, para entrar num concurso. Acabou por vencer e a partir daí soma presenças em desfiles e campanhas publicitárias a nível nacional e internacional.

Com o passaporte carimbado, figurou uma campanha mundial para a Marc Jacobs, conheceu novas culturas, contactou com criativos de diferentes nacionalidades, degustou as diferentes gastronomias do mundo e começou a mergulhar e combinar as duas áreas que tanto a apaixonam.

Recebida a desenvoltura que o mundo da Moda acarreta, Margarita decidiu começar a planear e desenvolver a sua expertise, numa área paralela à da Moda. Desta forma, como percebeu que a culinária já estava no seu percurso desde cedo, e que continuava a ser onde desenvolvia a sua criatividade, decidiu apostar na sua formação.

Juntou-se a gula à vontade de querer inventar algo único e nasceu a aposta de Margarita na pastelaria. Entrou na edição portuguesa do concurso MasterChef e terminou num honroso terceiro lugar. Desde então, tem investido na doçaria, estagiou na pastelaria Ladurée e, atualmente, encontra-se, por convite de um conhecido grupo hoteleiro, a desenvolver a sua arte na Madeira.

Hoje, da Moda e doçaria, fica o desejo de Margarita de desenvolver uma sobremesa em conjunto com um stylist de Moda, onde a criatividade das texturas e tecidos transcenderá o limite visual e vai incorporar os domínios do paladar e da degustação.

 

Fotos do portfólio da Margarita gentilmente cedidas pela Central Models

Eles&Elas 305- Livraria-Bar Menina e Moça – A Utopia da Rua Cor de Rosa

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Conheci a Cristina Ovídio quando ela era Coordenadora Editorial da Oficina do Livro, que estava prestes a publicar um romance meu pela primeira vez, o NO MEIO DO NOSSO CAMINHO. Era bastante mais nova do que eu, mas possuía uma erudição literária que raramente se encontra em alguém. Além disso era extremamente elegante, vestia-se de uma maneira extremamente criativa – e, por trás de todos aqueles caracóis de um louro veneziano raro completados por um tereré de cabedal atrás, era uma miúda linda. O trabalho em conjunto transformou-se rapidamente em amizade, assim como cada livro se tornou rapidamente um debate cada vez mais promissor. Depois destes primeiros passos, estive uns anos fora de circulação. Lembro-me como se fosse ontem de quando a reencontrei no metro: no meio de toda a confusão da hora de ponta, ia sentada com um ebook no colo, a ler com tanta intensidade que parecia pendurada sobre ele como uma águia no cimo de uma árvore a examinar atentamente a sua presa. A partir daí trabalhámos juntas a escrever, e devo-lhe a coragem de publicar o meu romance sobe os GE de Moçambique NÃO PODEMOS VER O VENTO, e, com um cuidado e uma sensibilidade absolutamente excepcionais, a minha biografia do Manuel Jerónimo UM HOMEM TEM DE LUTAR. Por essa altura já ela congeminava uma qualquer forma de mudar de vida, e às vezes, se houvesse tempo, íamos falando de fragmentos desses seus novos planos. Até que, dois meses depois de regressar a Lisboa, fui descobrir os seus novos domínios: o espaço de sonho MENINA E MOÇA, uma livraria-bar mesmo no fim da Rua Cor de Rosa, no Cais do Sodré. Foi aqui, com a casa cheia, que tivemos a nossa conversa.

Sempre foi isto que quiseste fazer?
Eu fiz o curso de Letras porque só queria era, de uma qualquer forma, ter livros a toda a minha volta. Depois de me licenciar comecei por fazer um estágio de Jornalismo de Investigação na SIC mas não gostei, não gostei nada daquele ambiente. Passei a ser consultora literária na RTP para o programa QUEM CONTA UM CONTO, e então, ao fim de uns tempos, e para minha grande surpresa, convidaram-me para professora de Português no Colégio Ramalhão.

Mas que reviravolta.
Foi uma reviravolta muito boa. Dar aulas é maravilhoso, e eu fiz com as minhas alunas toda a espécie de coisas animadas para elas começarem a gostar mais de livros.
E depois é maravilhoso ver as alunas voarem, exactamente como as águias voam. Foram anos magníficos. Depois, estava eu grávida da minha segunda filha, apareceu a editora Clube do Autor. Começaram por convidar-me para ser revidora, incluindo de revisão científica. A seguir passei a Coordenadora Editorial, que inicialmente fiz até ao fim do meu último 12º ano no Ramalhão. E sabes, é bonito… não quiseram terminar o meu contrato. Deram-me antes licença sem vencimento.

O TRABALHO EM CONJUNTO TRANSFORMOU-SE RAPIDAMENTE EM AMIZADE, ASSIM COMO CADA LIVRO SE TORNOU RAPIDAMENTE UM DEBATE CADA VEZ MAIS PROMISSOR.

E depois? Ser professora no Ramalhão fazia-te feliz. A seguir o que é que te fez feliz no Clube do Autor?
Gosto de trabalhar com o autor, e fez-me feliz estar bem preparada para esse trabalho. Gosto de poder dar sugestões que façam o livro melhor. No meu caso, mais especificamente, sentia-me especialmente bem se conseguisse ajudar o autor a ter boas ideas no que respeita a ver-se livre de desnecessidades e de gorduras.

Hey! Não me lembro de me chateares uma única vez com as minhas gorduras!
Está bem, mas tu não tens gorduras.

Vindo de ti, isso é mesmo bom de ouvir.
Então, mas é verdade. Se tivesses gorduras, eu dava logo por elas. A edição é uma espécie de maladie, às tantas já nem consegues distingui-la da tua própria vida. E isso é incrivelmente bom porque te remete para um verdadeiro estado de Utopia. Se não houver Utopia, a vida não se aguenta. Entusiasmei-me tanto com o meu trabalho no Clube do Autor que acabei por criar um verdadeiro Comité Editorial para a triagem dos livros, para fazermos a organização de um plano editorial inteiro em cada ano.

Bem, mas o Clube do Autor era uma editora comercial especialmente virada para os best-sellers, certo?
E não publicou seis livros teus, quatro deles romances originais e um deles uma biografia de um proletário, extremamente difícil de vender, sabendo perfeitamente, desde o primeiro dia, que tu não fazes minimamente o género autor de best-sellers? Os best-sellers permitiam era que a editora pudesse sobreviver sem problemas financeiros – e passavam pelo nosso Comite Editorial, tão seriamente como todos os outros livros. Para lá desse aspecto, conseguimos ser francamente inovadores no que diz respeito a escolher revisores, escolher tradutores, escolher o texto da capa, até desenhar a própria capa. E tudo isto me fazia feliz, mas eu também sempre vivi com o sonho de ter um espaço só meu desde que me meti na edição. Por isso, quando me senti pronta, comecei à procura de um bom sítio para concretizar esse sonho.

GOSTO DE TRABALHAR COM O AUTOR, E FEZ-ME FELIZ ESTAR BEM PREPARADA PARA ESSE TRABALHO.

“TUDO, DE TODAS AS MANEIRAS”
O encanto deste lugar que eu inventei é não ser nem um bar, nem uma livraria, nem sequer uma mistura inactiva e inespecífica de ambas as coisas. Claro que as pessoas podem vir cá só beber uns copos ou comprar uns livros. Mas o que é diferente é poderem ter, também, acesso a destilações do melhor que estas duas faces artísticas podem oferecer-nos.
Repara.
No Menina e Moça temos um programa permanente com diferentes estilos garantidos a quem quiser cá vir. Às terças, brindamos as pessoas com música Swing; às quartas, fazemos uma tertúlia chamada o Rendez-Vous Menina e Moça; às quintas, quinzenalmente, oferecemos um programa de Jam Literature; e aos domingos temos uma verdadeira Jam Session de Jazz associada a apresentações de livros, de leituras de poemas, e de homenagens aos grandes escritores da nossa língua, como o David Mourão Ferreira, o Alexandre O’ Neill, o Cesário Verde, ou o Fernando Pessoa. Enfim, o Menina e Moça é uma história longa de desejo de evasão e de viagem. Claro que tudo isto só foi possível, desde o primeiro dia, com a ajuda sólida de quem conhece as fundações de uma casa. Quem se empenhou mais em ajudar-me foi o Henrique Vaz Pato. Como até o Adriano Moreira nos recorda, só a águia voa sozinha, para mim foi fundamental ter também o apoio de bons e antigos amigos. Devo dizer que a missão de Professora é, como sabes bem, das mais nobres da vida. A edição é uma paixão mas tenho uma alma de cigana. Gosto de rua e do Céu de Lisboa. Estar só entre quatro paredes, numa casa editorial, limitava a minha vontade de sentir tudo de todas as maneiras, como diria o Álvaro de Campos. Estar na rua é como a Poesia. É a minha maneira de ser livre.

É interessante teres-te sentido pronta para um plano assim tão arriscado em pleno mandato da Troika.
Precisei de imenso apoio, como é evidente. E o meu marido, o Henrique, que tem aqui dois restaurantes, funcionou sempre como o meu parceiro natural. Também fui à Câmara Municipal de Lisboa falar com a Catarina Vaz Pinto. E comecei a pensar em pessoas do meio literário que pudessem vir trabalhar comigo. Só a águia é que voa sozinha. Eu não. Então e voaste para aqui como? Tão bem situada, mesmo com a porta aberta para a animação nocturna da Rua Cor de Rosa, e ainda por cima mesmo ao lado do teu marido? Olha, há coisas, realmente. Onde estamos agora havia um restaurante incaracterístico chamado O CARDO. Às tantas fechou, e a única coisa que o senhorio para queria o trespasse era um conceito com ideias. Meti logo os papeis para segurar a loja. A preparação para a abertura coincidiu com a morte dos meus pais, uma daquelas coisas em que não adianta de nada estarmos preparados: é sempre, um terramoto. Mas não parei de trabalhar. Trouxe alguns dos livros deles para aqui, para me fazerem companhia. A ideia do MENINA E MOÇA é mesmo essa: juntar todos os prazeres num único espaço. Até as decorações, os postais, a mobília, foram desenhados à mão, e só existem aqui.

MAS O QUE É DIFERENTE É PODEREM TER, TAMBÉM, ACESSO A DESTILAÇÕES DO MELHOR QUE ESTAS DUAS FACES ARTÍSTICAS PODEM OFERECER-NOS.

E agora o que é que queres?
Continuar a crescer cada vez mais, para fazer as pessoas cada vez mais felizes.

 

Clara Pinto Correia

Eles&Elas305- Inês Pedrosa – O Monte dos Vendavais

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Inês Pedrosa é uma daquelas pessoas que sempre quiseram ser escritoras, e por isso mesmo se deixou fascinar pelo mundo do Jornalismo Escrito desde muito nova. Aos dezanove anos já era estagiária do semanário O Jornal, de onde não demorou muito, pelo conjunto dos seus interesses e pela qualidade da sua escrita, a passar para o JL, então também semanário. Mais tarde vamos encontrá-la n’O Independente, e por fim a escrever semanalmente as primeiras crónicas feministas do nosso jornalismo generalista, apropriadamente intituladas “CRÓNICA FEMININA”. Depois de seis anos na direcção da Casa Fernando Pessoa, dedicou-se agora ao seu trabalho ainda menos conhecido: enquanto participa no debate semanal “O ÚLTIMO APAGA A LUZ”, criou a pequena editora independente “SIBILA”, uma homenagem a Agustina Bessa-Luís dedicada exclusivamente ao romance feminino. É por enquanto uma editora minúscula, mas vale a pena ler qualquer um dos seus oito títulos: já não há muito em Portugal quem se dedique exclusivamente à literatura de grande qualidade de forma independente, e muito menos com pouco dinheiro e nenhum acordo de troca de contratos ou de influências. Num país de literatura absolutamente estagnada, há muito que o que Inês procura oferecer-nos é, literalmente,
“O MONTE DOS VENDAVAIS”.

Sempre quiseste ser jornalista, ou ires lá parar foi um acaso?

Eu sempre quis ser escritora, mas sabia que escrever romances, em princípio, não bastaria para sobreviver. E então, como apareceu entretanto o curso de Ciências da Comunicação na Universidade Nova, entusiasmei-me com a ideia do jornalismo escrito, pensando que me daria mundo e traquejo de escrita para me tornar uma melhor escritora.

Lembro-me perfeitamente de ti quando entraste para O Jornal, onde eu trabalhava, sobretudo porque se metia pelos olhos dentro que a tua qualidade, como jornalista e como escritora, era absolutamente acima da média. Mas como foste é que transitaste do Jornal para o JL, um veiculo de cultura de critérios muito mais exigentes?

Fui parar a O JORNAL batendo à respectiva porta e oferecendo-me para um estágio, aos 19 anos, quando ainda estava na Universidade, porque o meu pai me azucrinava o juízo, bradando que eu ficaria desempregada. Deram-me uma reportagem-teste e aceitaram-me, para um estágio gratuito de três meses, que depois se prolongou por um ano. Então, o António Mega Ferreira, chefe de redacção do JL, ia tornar-se semanal e precisava de ter pelo menos um jornalista, chamou-me (creio que por sugestão da jornalista que já se tinha interessado muito por mim n’O Jornal, a Clara Pinto Correia). A posição incluía um lugar pago, embora parcamente pago, porque já nessa época se entendia que as pessoas da Cultura vivem do sopro da inspiração. Mas enfim, nenhum jornalista que não fosse dono de coisa nenhuma recebia assim tanto como isso.

Qual foi o trabalho que gostaste mais de fazer até hoje, e o sítio ou período onde te sentiste mais feliz – e porquê?

O trabalho de que verdadeiramente gosto é o de escrever romances; não há felicidade comparável à dessa maratona intensa e intensamente solitária. Mas, na minha vida profissional extra-literária, o trabalho de que mais me orgulho foi o que realizei na Casa Fernando Pessoa, durante seis anos, com pouquíssimos meios e com a comovente colaboração de muita e variada gente, do Caetano Veloso e da Maria Bethânia, que se apresentaram gratuitamente na Casa, à de muitos escritores e artistas, e à da população lisboeta anónima que participou em inúmeras maratonas de leitura e em recitais. Criámos o Clube Pequenas Pessoas, para as crianças, e desenvolvemos um trabalho intenso com as escolas, em particular as dos bairros mais desfavorecidos, a partir de um livrinho que escrevi sobre a vida de Pessoa, acompanhado de poemas e jogos de palavras, que estava disponível para descarregar na net, para poder ser utilizado em qualquer escola. Inesquecível o êxtase dos miúdos ao descobrirem a poesia, os heterónimos, as múltiplas possibilidades das palavras.Não há maior degratificação do que a de sentirmos que prestámos um verdadeiro serviço público.
Por outro lado, os sítios onde me senti mais feliz foram o JL e O Independente. Éramos poucos, e muito novos, e queríamos mudar o jornalismo e o mundo, por esta ordem.

Alguma vez mudaste coisas importantes na tua vida por amor? E por causa de ter filhos?

Não. Quando me aceitaram n’O Jornal, o estudante de Belas Artes que eu namorava há dois anos disse-me que, se eu começasse a trabalhar, teria de acabar o namoro, porque eu passaria a ser uma jornalista e ele era ainda apenas um estudante. Esse desgosto foi uma lição de vida: nunca aceitar um amor que não nos respeita nem aceita a nossa realização pessoal. A educação é um exemplo, pelo que nunca deixei de fazer nada por causa da minha filha, de modo a ensinar-lhe o valor do trabalho, da independência, e de um projecto de vida autónomo.

Quantos anos tinhas quando te aventuraste a escrever um romance pela primeira vez? Lembras-te de como é que te sentiste nessa altura – e quanto dessa sensação ainda persiste?

Tinha doze anos quando escrevi o meu primeiro, e péssimo, romance. Escrevi outro aos quinze, e depois muitos contos e poemas. Os estudos e os jornalismo ocuparam-me completamente entre os 19 e os 27 anos; começara a escrever um romance quando Nelson de Matos, então editor da Dom Quixote, me telefonou, dizendo: «Quando acabar o seu romance, eu quero publicá-lo». Perguntei-lhe, interdita, como é que sabia ele que eu estava a escrever um romance; e ele respondeu-me que se notava pelo novo tom dos meus textos jornalísticos. Então disciplinei-me, cortei todas as saídas e fins de semana, e concluí em um ano e meio A Instrução dos Amantes, que viria a ser o meu primeiro romance publicado – graças ao estímulo do Nelson, a quem ficarei para sempre grata por essa profissão de fé na minha escrita.
A sensação de exaltação e medo que tive dessa vez mantém-se, sim. Como sabes, um romance é uma descida aos nossos abismos mais profundos e uma ascensão a um conhecimento que ignorávamos ter, até começarmos a escrever. Exige uma inocência, uma espécie de candura face à vida – mesmo, ou sobretudo, quando o que temos para narrar é terrível. Cada novo romance é o recomeço de um universo – o que nos impede de envelhecer e envilecer.

Depois de uma longa ausência nos EU, cheguei a Portugal e descobri, numa página inteira do Expresso, a tua Crónica Feminina. Foi assim que fiquei a saber, ou a imaginar, que agora eras a feminista de proa da nossa geração — ou não é em assim que te vês? Como se deu em ti essa maturação para o feminismo? E, a partir daqui, que papel constante sentes que isso desempenha em ti e contigo – no sentido em que a Shinead O’Connor uma vez disse, por exemplo “happily, the first word my daughter ever said was NO!”

Agradeço-te a distinção, mas não sei se sou a feminista de proa ou de popa – nem me interessa; o que me interessa é dar a minha contribuição para um mundo mais justo. A minha maturação feminista deu-se através de um terramoto chamado “Novas Cartas Portuguesas» que li aos 12 anos, de fio a pavio, porque estava escondido numa gaveta dos meus pais. Transfigurou-me de corpo e alma enquanto menina, mulher e escritora, não só pelo que naquele livro me era revelado, mas também pelo modo como me era revelado. Eu não sabia que a língua portuguesa podia ter aquela plasticidade, nem aquela potência erótica e letal. Tenho-o relido muitas vezes, e sei que este livro é um monumento literário da dimensão do Livro do Desassossego, ao qual ainda não foi feita justiça – porque é de mulheres, e trata da discriminação das mulheres, pois. Depois, fui lendo muita coisa que me formou e impressionou . Por exemplo, O Segundo Sexo da Simone de Beauvoir, The Feminine Mistique da Betty Friedan, A Mulher Eunuco da Germaine Greer… E, acima de tudo, fui observando a diferença de expectativas, exigências e tratamentos atribuídos a homens e mulheres, só por serem homens ou mulheres.Diferença que persiste, para lá da mudança das leis, ou que até se agrava precisamente por causa da evolução legislativa: as mentalidades resistem muitíssimo à mudança. Uma dessas crónicas que escrevi durante muitos anos no Expresso levou alguns leitores a sugerirem-me que lançasse um abaixo-assinado para conseguir um indulto para uma enfermeira condenada a oito anos de prisão por prática de aborto – e tivemos a alegria de conseguir essa libertação, através desse abaixo-assinado de perto de três mil assinaturas, em 2003. Anos mais tarde, através da luta de muitas mulheres e homens – uma luta em que tive a felicidade de participar activamente – conseguiu-se finalmente legalizar a interrupção voluntária da gravidez. Mas ainda há muito caminho a fazer até à efectiva igualdade. Não quero que a minha filha tenha de bater o pé para conseguir um salário igual ao dos homens que trabalham ao seu lado, como eu tantas vezes tive de fazer, nem que explicar que não está disposta a fazer de cheerleader ou de mascote em embaixadas de celebração do génio masculino. Já chega desse desgaste.

Tens recebido tratamentos malevolentes por causa do que é geralmente entendido como o teu feminismo?
Claro: faz parte do pacote. Tenho recebido tratamentos malevolentes, tenho sido insultada de perto e de longe, fui perseguida quanto ao melhor do meu trabalho ( na Casa Fernando Pessoa, pois), e muitas vezes desconsiderada enquanto escritora. Mesmo assim, não é nada que se compare ao que passou com a Maria Teresa Horta, que chegou a ser fisicamente agredida na rua – agora os detractores do feminismo já não se atrevem a tanto. Não tenho dúvidas de que o combate feminista tirou à Teresa muitos prémios literários, e é obviamente uma vergonha para o júri que não lhe tenham dado ainda o Prémio Camões – mas os seus livros continuarão aí para fascinar gerações e gerações de amantes de poesia. Acresce que a ira é uma musa valente, e a aprendizagem da pulhice é muito útil a quem escreve romances, pelo que não me posso queixar. Além disso, tenho muitos e bons leitores, estou a acabar o doutoramento sobre Milan Kundera, acabei de ter um romance publicado nos Estados Unidos pela Amazon Crossing que vai publicar outro romance meu já em Junho, e publicarei em Fevereiro um novo romance, “O Processo Violeta”, na Porto Editora. As sacanices irritam-me temporariamente, mas depois transformam-se em gás adicional para os meus projectos

Em que papel é que te vês, ou de que de que é que te sentes incumbida, no presente programa de debate e comentário na RTP3, O ÚLTIMO APAGA A LUZ? E que reacções é que tens dos espectadores anónimos?

Gosto muito de fazer o programa, porque gosto de televisão, de política e de debater ideias. Não represento ali nenhum papel senão o de alguém que pensa em voz alta, e se possível com algum humor, sobre o mundo contemporâneo – no fundo, é um prolongamento do meu trabalho de romancista.Acho que funcionamos bem em equipa, entendemo-nos, com as nossas diferenças, e temos um ponto em comum que é muito importante: somos todos pessoas que pensam pela sua cabeça e que dizem livremente o que pensam, sem agendas de espécie alguma. E é o único programa de debate televisivo semanal com total paridade de género.Os espectadores reagem cada vez mais assiduamente e com crescente simpatia, o que significa que a audiência do programa está a subir. Também recebemos críticas contundentes por causa desta ou daquela opinião, claro – o que me parece muito saudável, porque é sinal de que não vivemos numa sociedade monolítica.

E agora uma pergunta daquelas mesmo de inspirar felicidade a qualquer um: depois de morreres,
queres que as pessoas se lembrem sobretudo de que
dádiva tua ao mundo?
Dos livros: que os leiam, que gostem deles, que se sintam acompanhadas por eles. E, claro, gostaria que as pessoas mais próximas recordassem o amor que partilhámos. Sei que recordarão, como eu me recordo do amor que recebi das muitas pessoas que amei e já não estão
neste mundo, mas que continuam a ajudar-me a viver

E tu, enquanto ainda vamos a tempo: o que é que gostavas, fundamentalmente, de dizer a TEU respeito antes de morreres?

Não me ocorre nada, a não ser que estou grata à vida, que me deu uma filha maravilhosa, um amor absoluto quando eu já não o esperava, e um grupo de amigos luminosos e firmes como faróis. Ah, sim. Também é importante dizer que me sinto infinitamente mais livre agora do que aos vinte anos. E que o aperfeiçoamento da liberdade é o que dá luz à existência.
Então vamos lá ao que deve ser o mais espantoso aperfeiçoamento da tua Editora: toda a sua coragem que te levou de mergulhar assim, sem defesas, naquele Shark Tank dos grandes conglomerados multinacionais de editoras interessadas em best-sellers e pouco mais.

Como é que tiveste a ideia, e qual é a coisa mais importante que gostarias de deixar dito sobre ela?

Bem, a ideia é muito antiga. Já a tinha na minha juventude. Sempre gostei de editar textos, de fazer títulos, de escolher imagens, da parte gráfica da edição. Quando, há seis anos, conheci o Gilson, que é designer e um leitor voraz, começámos imediatamente a falar de criar uma editora; há um ano, decidimos que, dado que estamos os dois no meio da nossa década dos cinquenta, se íamos realmente fazer alguma coisa, então agora ou nunca. Escolhemos o nome de “Sibila” em homenagem à minha muito querida Agustina Bessa-Luís e à capacidade profética e prática das mulheres, historicamente arredadas dessa História, que, no entanto, fisicamente depende delas. Começámos precisamente por publicar uma interessantíssima escritora libanesa ainda não publicada em Portugal – a Joumana Haddad – e depois por recuperar vozes esquecidas de mulheres escritoras. Pretendemos também vir a publicar ensaio, aí já de autores de ambos os sexos, porque ainda se publica muito pouco ensaio em Portugal. Iremos avançando solida e lentamente, porque o negócio da edição é, também ele, lento. A lentidão parecenos um valor a recuperar.

Diz-me quais consideras os teus três já livros já publicados mais indicados para oferecer como presente a alguém de quem nós gostamos – e porquê.

Antes de mais nada, o “Cartas Portuguesas”, uma edição que junta a tradução de Filinto Elísio das famosas cartas de Mariana Alcoforado a uma colectânea de «cartas de uma ilustre desconhecida», de 1821, que Nuno Júdice, organizador e prefaciador desta edição, suspeita terem sido escritas por Almeida Garrett. Duas vibrantes histórias de amor contadas através de cartas sumptuosas. Depois há o “Cinzas”, um poderosíssimo romance da esquecida Prémio Nobel italiana Grazia Deledda, numa edição que contém um CD do compositor e cantor Mariano Deidda, que musicou textos desta escritora genial. Finalmente, eu seleccionaria o “Mundo Novo”, o último romance de Ana de Castro Osório, reconhecida como uma proeminente feminista da primeira República e editora de Camilo Pessanha, que merece também ser reconhecida como a talentosa e arguta romancista que foi. O mundo novo a que se refere este romance muito autobiográfico é o Brasil, mas é também um mundo em que as mulheres terão o mesmo direito à autonomia e à realização pessoal do que os homens. Creio que qualquer um destes livros será um bom presente que testemunhe a nossa afeição por alguém, porque todos eles aprofundam o nosso conhecimento da  natureza humana, e das possibilidades da palavra.

Texto Clara Pinto Correia
Fotos Alfredo Cunha e Adriana Delgado Martin

Laskasas Exclusive – A morada do requinte, luxo e bom gosto

Acabada de inaugurar, a Laskasas Exclusive estabeleceu-se na Rua Castilho.

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Desde a localização à escolha de materiais, tudo foi pensado para dar a um cliente de eleição tudo o que precisa para uma casa de sonho, com o bom gosto e apaixonante criatividade de uma equipa experiente e dedicada na decoração de excelência e não só. Considerada internacionalmente uma das cidades mais bonitas do mundo, Lisboa é também actualmente uma das mais procuradas para visitar e até viver.

Cidade das sete colinas acolhe quem procura um ambiente cosmopolita, com o movimento constante da vida que lhe enche as ruas. Viva e apaixonante ganha mais valor quando quem nela mora, ou passa a morar, partilha de espírito de exclusividade para o seu lar.

Berço de uma história inigualável, Portugal, bem situado geograficamente, neste cantinho de sonho, a oeste da Europa, ganhou nos últimos anos uma projecção mundial, cada vez maior.

É um orgulho ver marcas de grande qualidade nacional e internacional apostar na nossa capital e não só, para abrir lojas que são “templos” onde a qualidade e o requinte se fazem sentir, desde o primeiro encontro, e são “pedra de toque” na eleição, que granjeia a recém inaugurada Laskasas Exclusive .

Mais que uma loja “à porta fechada” onde os clientes são atendidos individualmente e por marcação prévia, o conceito de exclusividade existe, marcando a diferença desde as escolhas ao atendimento, feito por designers de interiores profissionais, que são consultores e cujo know-how é direccionado sobre a escolha certa para cada situação, para cada casa, para cada espaço, que pode inclusive ser arquitectonicamente mudado! É você quem decide! E a sua casa será entregue e pronta by “Laskasas Exclusive”, tal como desejou e sonhou… e com “chave na mão”. Mas nada acontece por acaso, tudo tem uma história que fez acontecer, dando forma e vida ao expoente do ADN de exclusividade Laskasas.

Nascido em Paredes, há 42 anos, Celso Lascasas herdou da família, de pai nortenho e avô espanhol, o gosto pela profissão de marcenaria. E ele conta: “No princípio era uma fábrica de móveis personalizados mas pequena, numa zona do país, que apostava e aposta forte no mobiliário de design”. Empenhado em fazer crescer o negócio que desde pequeno o atrai, foi há 14 anos atrás que Celso abriu a sua primeira loja Laskasas. Assume que o negócio foi crescendo ao longo dos anos “sempre com um cunho muito especial, que foi felizmente ganhado adeptos e clientes.” E hoje já são 11 lojas, abertas ao público, desde Portugal a Angola. Um verdadeiro sucesso empresarial, onde o bom gosto impera.

Agora, chegou a altura de” subir ainda mais a fasquia”, com este espaço exclusivo, dirigido a um cliente “de topo” que se constata ser no carácter internacional da procura com 40% portugueses para 60% de estrangeiros. Rapidamente nos apercebemos que cada vez mais os turistas querem conhecer Portugal, e que decidem por cá ficar com casa posta. No número 15 da Rua Castilho, o bom gosto impera e descobre-se uma invisível mais valia. A da mão-de-obra portuguesa da melhor qualidade, uma mais valia especializada, no fabrico dos móveis, estofos e metalurgia. E é um sucesso, pois tal como Celso Lascasas confirma, tudo é visto quase à lupa: “…

Com uma equipa de projecção 3D, capaz de projectos incrivelmente realistas. É sempre a nossa proposta, o bom gosto acompanhado pela capacidade técnica que permite pré-visualizar ao pormenor a sua próxima decoração”. E na realidade ali é fácil constatar que nada é deixado ao acaso. E, mais uma vez, é o nosso anfitrião que explica: “São os melhores materiais escolhidos para o nosso cliente num atendimento ímpar em excelência, pelos melhores profissionais, que dão realidades aos sonhos de quem nos procura…” E assim fiquei, e ficamos todos nós, a conhecer as bases da exclusividade que dá nome a este novo conceito perfeito “Laskasas Exclusive”. Quanto à importância de saber, bem, escolher a decoração para o espaço onde vai morar, é ainda dito por quem nasceu para servir esta nobre causa:“…é parte integrante no futuro da sua vida. Nada merece ser mais exclusivo e único que a sua casa”.

laskasas.com

Entrevista a Paula Bobone sobre “Domesticália” – Na Eles&Elas 301

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Por José Mattos e Silva

J.M.S. – Como é que surgiu esta necessidade ou
interesse de fazer este livro?

P.B. – Este livro que se chama “Domesticália” é para os empregados que se reconhecem nos patrões. Eu nunca posso dizer ou perceber como certas coisas me acontecem. Ninguém tem bem noção. Se eu às vezes olhar para trás, e já me aconteceu tanta coisa ao longo da vida, tanta coisa e tão variada, tão curiosa e imprevisível, que eu diria que para já há o destino que manda em nós e que está a trabalhar para nós. E, depois, a conjuntura das situações que à nossa volta nos leva a fazer coisas que não estávamos à espera. Não vou falar agora porque é que comecei a escrever livros e com o sucesso que foi reconhecido por muita gente, porque no fundo em 17 anos escrevi 12 livros e continuam a aparecer razões para escrever. Na minha carreira profissional, na sequência dum curso de Germânicas que tirei nos anos 60, nunca desempenhei a minha função nessa área. A minha carreira profissional foi toda desenvolvida no Ministério da Cultura e, nesse período, há 30 anos, o que efetivamente a burocracia me obrigava a fazer porque a cultura que é uma atividade tão importante porque tem aquela dimensão dumas pessoas que são bonitas e que cheiram bem. A cultura por si tem sensibilidade, é assética na vida. Não tem a ver com outros aspetos. Eu fiz uma carreira que me permitiu ver o que se fazia com a cultura em Portugal e posso dizer que não gostei muito porque desenvolvi uma cultura não muito profunda. Sempre com os olhos postos na cultura, sempre esmagada com a burocracia, comecei a escrever livros numa linha que gosto muito e este livro, que agora surge, vem nessa linha com uma certa coerência.

J.M.S. – Durante algum tempo escreveste para relembrar algumas formas de estar em sociedade o que, no fundo, tinha mais a ver com os patrões do que com os criados. Agora estás a fazer algo que consiste em atuar sobre um nível mais abaixo na escala social. Será que consideras que os patrões não têm as bases para formar o seu pessoal doméstico e para não serem os patrões a sentirem-se desconfortáveis nessa formação de protocolo, seres tu a ensinares o pessoal doméstico?

P.B. – Quando aparece a palavra protocolo eu aceito-a mas acho-a um pouco “rafiné”, um pouco pretensiosa. São aspetos de boa educação e essa boa educação aplica-se a empregados e a patrões. E essa bifurcação leva-nos exatamente para o conteúdo que se chama Domesticália porque é um nome criativo. O comportamento das pessoas numa casa, sejam patrões ou empregados, tem de se basear na boa educação. Todavia há um “teatro” doméstico em que o papel que representam os patrões é diferente do papel que representam os empregados. A dimensão humana é a mesma mas financeiramente a discrepância é total porque uns ganham muito e os outros vivem com grandes dificuldades, embora vão sobrevivendo. São pessoas que, para mim, têm uma dimensão humana. Não há dúvida que as regras que dou sobre este comportamento têm a sua origem desde o tempo dos escravos e, depois, dos criados que eram pessoas que eram criadas em casa dos ricos e que, por isso, viviam bem. Acabo por concluir que a sua dimensão é a mesma mas socialmente são vistos de outra maneira. A avaliação profissional é discriminatória. O papel que nós representamos, numa casa, é como o dos atores num palco. Eles representam um papel de uma coisa ou de outra. Há muitas personagens que se podem representar num palco. Nós somos meros atores. É evidente que as regras de comportamento dos empregados domésticos têm semelhanças com as regras dos patrões que vemos nos livros de protocolo. Neste caso do presente livro vemos listagens dos comportamentos dos empregados domésticos, daquilo que têm que cumprir para serem considerados eficientes no seu posto de trabalho, não só pelos patrões mas pelo ambiente social que os vai envolver. Antigamente havia toda uma hierarquia que hoje mudou muito, porque efetivamente há muitas pessoas que têm apenas empregadas à hora, as denominadas “mulheres a dias”, embora estas continuem a ser pessoal doméstico. Fazem parte do pessoal doméstico não especializado. No I.N.E. e no Ministério do Trabalho vem a a sua designação como “pessoal não qualificado”. Nunca houve uma escola para empregados domésticos e, por isso, é que surgiu a oportunidade de escrever este livro. Foi porque fui convidada, por uma empresa, para dar formação sobre esta temática. E de tal maneira o fiz com gosto e com entusiasmo que os meus apontamentos se tornaram na base deste livro.

J.M.S. – Lembro-me que há alguns anos estava num casamento onde estavam vários “chauffeurs”, nomeadamente o do meu avô, e aproximei-me da zona onde eles se encontravam e ouvi as suas conversas e de facto o que eles debatiam era: “eu sou motorista do presidente do conselho de administração da empresa A, eu sou motorista do presidente da B, etc.” e andavam a comparar-se, não em função do que eles eram, propriamente, mas de quem eram os seus patrões. Tens essa sensação?

P.B. – Tenho. É uma espécie de sentido de classe. Não há livros sobre isso, sobre essas histórias. Há uma medição de forças, mas isso é humano. Quando eu digo que eles são atores e representam o que lhes dizem na sua formação, quando vem o patrão eles recuam, olham para baixo.  Embora eles sejam tão próximos da família, eles são da família. Às vezes eles não podem representar esse papel. Mas essa matéria é mais para sociólogos e psicólogos. Não é para mim, mas eu ao abordá-la estou a levantar um problema de alguma pertinência e, sobretudo, isso confirma e completa um facto surreal que é esta ser a profissão com mais sucesso e mais procura no mundo inteiro. Eu vim agora do Mónaco onde tenho uma boa relação com uma russa que faz essa função com o apoio do Príncipe do Mónaco, numa Academia que dá formação a empregados de pessoas de altíssimo estatuto financeiro. O que eu quero é ser útil aos empregados. Os patrões se lerem o meu livro não perderão o seu tempo porque eu coloco lá as “artes da mesa” e as “artes de receber”. Saber receber é de facto uma questão de boa educação. Eu falo do protocolo da mesa, do protocolo social. Nada mais vale desenvolver porque o livro é útil, é curioso. Eu não vou abandonar este assunto. Já estou com propostas para trabalhos de desenvolvimento, enfim estou satisfeita e sobretudo tenho imensa consideração pela revista Eles & Elas, da nossa amiga Maria da Luz de Bragança, que me deu esta oportunidade e, para mais, pela mão de uma pessoa que eu tenho a certeza que me vai captar e até, se calhar, estar de acordo comigo.

J.M.S. – Eu costumava alugar, no Verão, um casa no Algarve que, regra geral, era a mesma, na zona da Prainha. Procurava fazer o aluguer no princípio do ano, quando tinha uma perspetiva de quando poderia ter férias. Eu tinha uma governanta, que me conhecia desde pequeno, que me acompanhava, e à minha família, nas citadas férias algarvias. Houve um ano, contudo, em que me atrasei no aluguer e não consegui obter a casa habitual, mas apenas outra de qualidade bastante inferior. Ao fim de uns dias nessa casa a minha governanta virou-se para mim e disse- -me “Menino Zé, fica já sabendo que eu não volto a uma casa com este baixo nível”. Ou seja, ela era mais “snob” do que eu em relação à casa. Como interpretas isto?

P.B. – Isso é de facto curioso e faz-me pensar num fator que é absolutamente verdade. Passou-se o mesmo com amigos meus do Norte do País que iam para o Algarve e, por vezes, ficavam em casas que eram péssimas. Acho curioso ouvir esta menção da governanta, a qual marcava a diferença de todas as casas onde tinha estado ou trabalhado. Não sei se é nos anos 60 ou 70 quando houve o grande surto de emigração, houve um certo abandono de regiões mais interiores do nosso país. Muito do nosso património urbano arquitetónico foi muito mal tratado. O português não tem o culto do património. Mas trabalha bem. Os portugueses quando trabalham na vida doméstica são lindamente bem recebidos porque trabalham com mais responsabilidade lá fora do que cá dentro. E eu tenho essa experiência por conviver com pessoas em França, no Mónaco e, também, noutros países, onde o pessoal doméstico português tem imenso crédito.

J.M.S. – Houve uma certa rutura nas relações sociais ao nível de empregador e empregado depois do 25 de Abril de 1974. Notas que os 40 e tal anos que, entretanto, já passaram “amoleceram” essas relações e que hoje, em dia, já há algum regresso às relações anteriores ao 25 de Abril ou notas que ainda há alguma clivagem, alguma dificuldade de aproximação, entre empregadores e empregados?

P.B. – Não. Nunca senti isso. Não há estatísticas. Eu estava em Angola nessa altura e, quando regressei a Portugal, o meu patamar de vida, os meus contactos com os empregados da família mantiveram-se. Não houve reações inesperadas.

J.M.S. – O 25 de Abril teve mais influência nas empresas do que, propriamente, na parte doméstica?

P.B. – Sim. Na indústria e no comércio. Os empregados domésticos vivem nas nossas casas. Pode haver ódio e até pode haver crimes e maus tratos mas, basicamente, à boa maneira portuguesa há uma certa ternura no relacionamento. Uma casa com empregados marca a diferença e revela a cultura e o respeito mútuo entre patrões e empregados. Também há outra área, a hotelaria, mas hoje em dia as escolas de hotelaria são para aqueles que vão para exercer a profissão em hotéis e restaurantes. A origem do conhecimento e da formação deles é nas casas e nas vidas domésticas de séculos e séculos atrás. Os primeiros hotéis aconteceram no período dos Jogos Olímpicos. Mas a hotelaria tem um historial que vai absorver muito ao bom comportamento dos palácios das grandes famílias e dos palácios reais de toda a Europa. França e Inglaterra sempre foram muito importantes, nessa formação. É uma história fascinante. Não é uma profissão que eu gostasse de ter, porque não queria.

J.M.S. – Falaste nas relações entre patrões e empregados. Havia, sobretudo nas famílias mais tradicionais, uma grande cultura de lidar com o pessoal doméstico (eu ainda conheci criadas dos meus bisavós paternos) e, portanto, havia essa proximidade. Entretanto, é sabido que o dinheiro mudou de mãos. Essas famílias mais tradicionais já não são tão empregadoras como eram no passado. Surgiu uma nova elite, financeiramente muito mais capaz mas, eventualmente, com muito menos bases educacionais. Notas essa falta de cultura de proximidade com os empregados? No fundo, é aquele velho ditado: “não sirvas a quem serviu…”. Até que ponto é que essa situação interfere nessas relações de proximidade? Tens alguma experiência neste domínio?

P.B. – Foste levantar uma questão que é justamente essa, o “não sirvas a quem serviu…”. Tem um cunho de mau gosto porque tem o pressuposto que servir a quem serviu levanta, de volta, reações que os deitam abaixo. Eu não quero pensar dessa maneira. Eu não quero levar a coisa por esse lado porque sempre houve gente agressiva. Não vou avaliar os bons e os maus patrões. Um empregado recebe um ordenado, pelo que é um funcionário como outro qualquer. Ele tem que descontar para a Segurança Social, pode queixar-se no tribunal, pode ganhar no tribunal e a relação pode ser passiva ou pode ser superagressiva. Portanto, os adjetivos têm outras “nuances”, mas é muito interessante e eu gostei muito de falar contigo porque levantaste problemas que merecem ser pensados e é bom que fiquem aqui registados para que alguém, que leia esta entrevista, tenha capacidade de estudar melhor esses assuntos.

Leia o Artigo completo na Eles&Elas 301 – Nas Bancas

Associação de familia Cunha Coutinho – Na Eles&Elas 299

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Cruzámo-nos há tempos e por completo acaso, com a publicação de «Cadernos Barão de Arêde» dirigida pelo Arquiteto Luís Soveral Varella, atual representante do título nobiliárquico de Barão de Arêde Coelho, uma revista do Centro de Estudos de Genealogia e Heráldica Barão de Arêde Coelho. No seu número 7, deixou-nos particularmente curiosos a leitura do artigo sobre a Associação de Família Cunha Coutinho. Fomos encontrar-nos com os seus mentores e fundadores, o Dr. José António da Cunha Coutinho, prestigiado Médico especialista em Estomatologia de Lisboa, e com a sua mulher, a Dr.ª D. Maria Antonieta (Nitocas) Sanhudo de Portocarreiro da Cunha Coutinho, Médica Veterinária, os Barões de Nossa Senhora da Oliveira, com quem tivemos uma muito amena e agradável conversa.

Como surgiu a ideia de fundarem uma Associação de Família e com o nome da vossa família?

Porque se trata de uma situação inédita, não? E qual o seu objetivo? JACC (José António Cunha da Coutinho) – Não se trata de uma situação inédita. Aliás, é uma situação até bastante comum noutros países, como o Reino Unido e os Estados Unidos da América. A própria CILANE, que é a Comissão Europeia da Nobreza e que foi estabelecida em Paris em abril de 1959, e que atualmente tem organizações associadas em vários países, essencialmente da Europa, mas também na Rússia, por exemplo, e de que a Associação da Nobreza Histórica de Portugal faz parte, incentiva a formação deste tipo de associações. A escolha da sua designação fazia todo o sentido já que a nossa Família tem de apelido Cunha Coutinho.

MA (Maria Antonieta) – Mas em Portugal é uma situação inédita, sim, dado que, pelo menos de uma forma estruturada e regrada, nunca existiu. JACC – Quanto à razão de ser e aos objetivos da Associação, o Luís Soveral, Barão de Arêde Coelho, nosso amigo, explicou-o de uma forma simples e notável no seu artigo publicado nos «Cadernos Barão de Arêde». Efetivamente, o Luís Soveral, como genealogista e estudioso da História da Família, propôs-nos escrever um artigo sobre a Associação, entendendo ele que era um excelente exemplo a divulgar. A Maria Antonieta e eu acedemos naturalmente. O principal objetivo é a preservação da História da Família. Primeiro porque propõe a congregação de todos os membros da Família à sua roda, vinculando-os à Associação e, desta forma, à Família, sensibilizando cada um individualmente para a organização celular da Família, promovendo o sentimento de a ela pertencer. Por outro lado, tem como objetivo a coleção e centralização da documentação que faz a História da Família, como fotografias, certidões, estudos elaborados, etc., permitindo ter disponível toda essa documentação para o estudo do percurso da Família e da sua organização. A Associação tem um site que poderá aceder em www.familiacunhacoutinho.com

MA – E também permite, num estudo futuro, entender o posicionamento social na estrutura em que a Família se insere. Mas os objetivos da Associação não ficam apenas por aí. A sensibilização de se pertencer a uma Família, com história mais ou menos conhecida – já que todas as Famílias obviamente têm história – ajuda-nos a unir noutros objetivos, como sejam o apoio àqueles que têm mais infortúnio do que nós e que nós, a Família, de alguma forma pode ajudar. Isso mesmo aconteceu no ano da Misericórdia em Roma, inseridos na Ordem de Malta, de que fazemos parte, em que tanto o Zé António como os nossos filhos, a Maria o Gonçalo e o Zé, também médicos, prestaram consultas pro bono. Mas também em Portugal nos inserimos nas organizações da Ordem de Malta e prestamos apoio aos mais necessitados de acordo com as nossas possibilidades e disponibilidades.

Maria Antonieta, é comum ver-vos, a si e ao seu marido, e por vezes acompanhados dos vossos filhos, em acontecimentos sociais. De memória, estou-me a lembrar de terem estado recentemente no BullFest no Campo Pequeno, bem como na corrida de toiros da Revista VIP na Moita e na Spring Party no Círculo Eça de Queiroz no ano passado. Também constatei que foram Embaixadores do Baile da Flor, no Estoril, e do Wieener Ball, promovido pela Embaixada da Áustria no Convento do Beato. Com as vossas vidas profissionais, seis filhos e ainda a vossa disponibilidade para o voluntariado, como é que têm tempo para uma vida social tão ativa?

MA – Bom, primeiro que tudo, os nossos filhos não nos dão trabalho, ou, pelo menos, não mais do que quaisquer filhos inseridos numa família dita normal. São muito amigos e protetores uns dos outros, cumpridores com as suas obrigações e entusiastas quer dos estudos quer das carreiras profissionais que escolheram. Como tal, para nós, sempre pais atentos, são um apoio e um conforto fundamental, não nos retirando tempo a mais do que aquele que é o nosso tempo em família, estrutura de que têm uma consciência plena e nela uma existência, que creio, feliz. Isso mesmo se prova no facto de todos eles, juntamente com nós os dois, serem fundadores da Associação de Família Cunha Coutinho. Estão sensibilizados quanto à importância da Associação e abraçam os seus objetivos e a sua atitude com entusiasmo. Quanto à nossa presença em alguns eventos sociais, gosto de pensar que é o resultado da nossa postura enquanto Família e individualmente perante os outros e a sociedade onde nos inserimos. Somos uma Família normal, cada um com as suas responsabilidades profissionais e sociais, e que gosta de conviver e de se divertir. A nossa presença em alguns eventos sociais, com alguns ou todos os nossos filhos, que por vezes não é fácil de reunir por serem seis e com obrigações, ou dos estudos ou profissionais, é apenas mais uma nossa faceta. É aí que encontramos muitos dos nossos amigos, e é aí que tantas vezes, de meras conversas informais, por vezes nascem ideias e projetos que no fundo são as ideias e os projetos que a Associação de Família Cunha Coutinho apadrinha. Falou da Spring Party no Círculo Eça de Queiroz no ano passado. Essa festa foi promovida precisamente pela Associação de Família Cunha Coutinho e, para além de muito divertida, foi lugar de trocas espirituais, de manifestação de amizades, de início de outras entre os nossos convidados, e do nascimento de ideias para ações futuras. É sempre muito rico encontrarmo-nos com outros, alguns que, por vezes, pensam mesmo muito diferente de nós, mas unidos no mesmo objetivo.

José António, como concilia a sua atividade profissional médica como Estomatologista e cirurgião oral e maxilofacial, de gestão como CEO do Grupo Cunha Coutinho Saúde e académica com a atividade da Associação da Família Cunha Coutinho, designadamente as de caráter social, as de voluntariado e as culturais?

JACC –  A participação em eventos sociais constitui uma forma de descontrair da intensa atividade profissional médica como Médico especialista em Estomatologista na Clínica Médica e Dentária Dr. Cunha Coutinho, onde a cirurgia oral e maxilofacial se cruza com a implantologia e a prótese fixa passando pela ortodontia e outras áreas da especialidade, bem como coordenando o trabalho de toda a equipa da clínica como Diretor Clínico. A esta atividade clínica acresce a responsabilidade de gestão como CEO do Grupo Cunha Coutinho Saúde, onde os nossos quatro filhos médicos (Maria, Graça, Gonçalo Nuno e José António) também colaboram. Participando em eventos sociais, a minha Família e eu estamos não raras vezes a ajudar causas humanitárias e beneficentes que, através dos fundos recolhidos nesses eventos, obtêm meios económicos para a consecução dos seus propósitos. Também me parece interessante referir que há mais de 20 anos a esta parte, no meu período de férias durante duas semanas, realizo voluntariado médico, no âmbito da Medicina Geral, no Santuário de Fátima, prestando apoio aos peregrinos no Posto Clínico do Santuário, integrado na equipa da Associação dos Médicos Católicos, ação que, para além da sua vertente benemérita, é extremamente rica em valores humanos e espirituais. A “Associação da Família Cunha Coutinho” vem desenvolvendo, desde a sua fundação, iniciativas de carácter cultural, sendo a mais atual o patrocínio concedido à edição do livro “Conselho de Tondela, Heráldica, História e Património”, excelente trabalho de investigação da autoria de Luís e Manuel Ferros e Rui do Amaral Leitão. A obra em apreço constitui o preencher de uma lacuna na historiografia Portuguesa e será lançada na próxima Feira do Livro de Lisboa e posteriormente no Grémio Literário.

No seguimento do que acaba de referir, por certo a Associação de Família Cunha Coutinho não existe isolada de tudo e de todos. A Associação tem alguma ligação com outras associações congéneres ou organizações com o mesmo propósito?

JACC – Sem dúvida. Enquanto Associação tentamos, e  Graças a Deus temos tido sucesso, fazer protocolos com outras organizações que tenham em vista servir o mesmo propósito, ou de alguma forma servir propósitos com que a Associação se identifica. A título de exemplo, a Associação é membro da Confederação Nacional das Associações de Família, que a condecorou com a medalha de Excelência e Mérito Familiar; e foi já condecorada ainda por Sua Excelência Reverendíssima o Bispo de São Tomé D. Abílio Rodas de Sousa Ribas, Bispo de São Tomé e Príncipe como Membro Honorário da Cruz de São Tomé, Apóstolo, Bispo que é desde 2009 o seu Capelão; é membro desde 2015 da The International Cruzade for Holy Relics, fundada sob a Alta Proteção de Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança; e em 2016 assinou um protocolo de colaboração com a Associação Portuguesa dos Autarcas Monárquicos, de que recebeu a Medalha de Honra. Como vê, a Associação da Família Cunha Coutinho não se limita a existir simplesmente e envolve-se com organizações e causas que tenham a ver com os seus princípios e objetivos.

Referiu, ainda que de passagem, Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança. Não poderia concluir esta entrevista sem me referir ao vosso apoio à Família Real Portuguesa nas pessoas de Suas Altezas Reais os Duques de Bragança e à militância monárquica da vossa Família.

JACC – A nobreza não faz sentido sem a sua organização tradicional, ou seja, sem o reconhecimento da sua hierarquia e da sua chefia, e que a fonte de honra, a que chamamos fons honorum, está no Chefe da Nobreza Portuguesa, que no caso presente é o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança. A convicção monárquica da nossa Família tem a ver com o nosso profundo sentimento de uma melhor e mais justa organização de uma sociedade, e em particular da nossa sociedade e do nosso país, contra muitos dos males que as falsas democracias nas repúblicas plantam em todos nós, ajudados por alguns media. No final, estamos pacificamente a aceitar uma organização social em que grassa a corrupção e o compadrio, o desdém pela nossa História e pelo respeito dos nossos antepassados, em que os ensinamentos dos nossos pais não servem para nada, em que se perdeu a palavra e o respeito pelo próximo. A convicção monárquica tem para nós apenas a responsabilidade e as obrigações para com Portugal e os Portugueses. Seriam razões por demais extensas para esta nossa conversa. Talvez numa próxima se para isso houver oportunidade.

Patrick Monteiro de Barros – À bolina no mundo dos negócios – Na Eles&Elas 299

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É um empresário de indiscutível sucesso e um homem muito interessante. Representou Portugal três vezes nas águas olímpicas como velejador, e ainda hoje continua a bolinar nos tempos livres. Como empresário, já teve participações em várias empresas de muitos setores, incluindo a maior refinaria independente de petróleo dos Estados Unidos. Defende a exploração deste recurso em Portugal e também já insistiu no investimento no nuclear. Homem de convicções fortes, Patrick Monteiro de Barros tem uma vida cheia que aceitou recordar nesta entrevista exclusiva.4

Ao fim de tantos anos de luta, ainda mantém vivo o sonho e a vontade de trazer o nuclear para Portugal?

Penso que neste momento não há possibilidade de relançar o projeto nuclear. Neste momento, insisto. Principalmente quando hoje temos um enorme excesso de capacidade de energias renováveis instaladas, principalmente eólicas e há uma capacidade de energia convencional que tem de estar em standby, razão pela qual nós hoje temos energia elétrica das mais caras da Europa. Não há condições neste momento para lançar o nuclear, por termos excesso de capacidade produtora.

Que vantagens é que vê no setor da energia nuclear?

O nuclear tem evidentemente algumas questões associadas, mas as vantagens do nuclear são, em primeiro, o facto de não produzir CO2. Se acreditamos na teoria que diz que as mudanças climatéricas são resultado das emissões crescentes de CO2, o nuclear é a fonte de energia que menos produz CO2. Além disso, o nuclear é uma produção constante. As energias renováveis, como a energia solar ou a eólica, produzem mas não constantemente. Tem uma carreira também muito ligada ao petróleo.

Preocupa-o o fim deste recurso?

A energia fóssil (petróleo e o gás natural) vai continuar ainda durante várias décadas a ser a principal fonte de energia. O esgotamento do petróleo não é para amanhã, e há previsões feitas internacionalmente que atestam isto. A percentagem relativa vai baixar, a favor das renováveis. Nós sabemos que existem reservas de petróleo em Portugal.

O que pensa da possibilidade de elas serem exploradas? Eu inclusivamente participei em algumas pesquisas de petróleo em Portugal, e eu não posso afirmar que haja reservas provadas. Há, sim, indícios da existência de petróleo no nosso país. Até agora, as pesquisas que foram feitas onshore indicam que esses indícios não eram suficientes para produzir. Penso que temos de desenvolver o país, que é muito pobre, tem poucos recursos naturais e, se há a mínima possibilidade de haver petróleo, nós temos de ir à procura dele. Nós não somos ricos ao ponto de podermos dispensar sequer essa hipótese. Há alguns “fundamentalistas” que defendem essa posição, mas eu considero que eles estão completamente enganados.

Preocupa-o a questão da poluição e da sustentabilidade?

Nós não podemos ser mais papistas que o Papa. Houve, sem dúvida, alguns incidentes, mas estes acontecem em toda a parte! Tal como podemos estar preocupados com os resultados de uma pesquisa offshore, eu também posso estar preocupado com a construção de uma barragem que pode poluir um rio ou matar dezenas de milhares de pessoas, como já aconteceu. Mas lobby das renováveis nunca gosta de ouvir falar nisso.

Alguma vez pensou investir nas renováveis?

Realizar um investimento direto, não. Mas indiretamente sim. Sou acionista de empresas que têm produção de energia, inclusivamente renováveis. As energias renováveis têm sido, até agora, um negócio fabuloso! A subsidiação é tal que tem uma taxa de retorno de investimento altíssima! Uma grande companhia europeia que tem investimentos em Portugal no setor nas renováveis diz num relatório e contas de há uns anos que Portugal é o melhor país para investir (obviamente atendendo à sua dimensão). No meu caso, nunca investi diretamente. É preciso um conjunto de licenças, e a adjudicação das mesmas deixa a desejar.

Como é que vê neste momento a situação económica do país?

A situação económica de Portugal é preocupante. Foi recentemente anunciado que a taxa de desemprego estava perto dos 10%, o que é uma redução substancial, ainda que artificial. Desde 2010, saíram de Portugal 780 mil pessoas, o que equivale, numa população de 10 milhões, a quase 8%. O mais grave é que estas pessoas que saíram são jovens e, 65% deles, são formados ou licenciados. Estamos a perder os melhores que temos cá; é muito mau. O que também é grave é a falta de investimento. O investimento privado está praticamente um deserto, há pouco investimento estrangeiro porque há falta de confiança, e o investimento público, de acordo com os números recentemente publicados, é dos mais baixos da Europa. Portanto, quando se diz que o défice orçamental está controlado, é porque não há investimento e muitas faturas por pagar (indústria farmacêutica, por exemplo). Sem dúvida que a situação é preocupante.

O que espera do futuro de Portugal?

Portugal continuará a ser Portugal – neste momento, estou muito preocupado, pelas razões que enunciei, mas sou otimista a longo prazo. No entanto, esse otimismo depende de nós. Dentro de alguns meses, se não houver problemas de última hora, Portugal vai receber uma área atlântica gigantesca, com o alargamento da Zona Económica Exclusiva, que corresponde a 40 vezes o tamanho de Portugal. Ora, receber esta área de mar, que tem muita riqueza, tem um grande potencial para Portugal. É pena é haver iluminados que recusam pesquisa de petróleo aqui na costa e também no Atlântico, com a argumentação de que o Atlântico é “muito fundo”. No Brasil as foragens petrolíferas estão a mais de 6000 metros! Nós precisamos é de ter meios para desenvolver. O nosso mar é um ativo fabuloso! Temos de defendê-lo e precisamos de uma Marinha com capacidade para tal. Temos de ter uma estratégia e precisamos de ir buscar parceiros que nos permitam desenvolver o seu potencial. Uma das razões do meu otimismo quanto ao nosso futuro é o próprio português. O “tuga” que está pelo mundo inteiro, que trabalha, que é respeitado e admirado lá fora. Nós temos um capital humano que é extraordinário, só que não está a ser bem orientado. Nos últimos anos, a orientação tem sido um desastre, e o “tuga” vai para fora, mas é possível que o cenário mude. Se tivermos uma gestão nacional boa, como temos um potencial do melhor, não há razão para continuarmos na cauda da Europa.

Tocou no assunto do mar, e isso faz-nos lembrar que é também um notável atleta! Chegou a ir aos Jogos Olímpicos…

Eu fui selecionado três vezes para ir aos Jogos Olímpicos, que são, para qualquer atleta, um momento inolvidável. Infelizmente, os resultados das minhas participações não foram os melhores, não correu bem. Temos vários troféus, desde Campeão do Mundo, Campeão da Europa, Campeão Ibérico, Campeão de Portugal… Mas os Jogos Olímpicos não correram totalmente bem. Mas foram experiências inesquecíveis.

Acha que o Desporto pode ser utilizado para desenvolver a economia

Com certeza! Dou um exemplo: quando me candidatei para trazer a America’s Cup para Portugal, em 2003, estimava-se naquela altura que o retorno seria da ordem de 1,5 milhões de euros. Por isso, não tenho dúvida de que os grandes eventos tenham retorno. É preciso é que tudo seja bem gerido. O caso do Euro 2004 é paradigmático – precisávamos de construir seis estádios, e nós, à boa maneira portuguesa, fizemos 10. Desses 10, há quatro que estão sem uso. Mas não é um problema unicamente português; os brasileiros gastaram 600 milhões de dólares a recondicionar o Maracanã, que hoje está abandonado. Se for bem coordenado, o Desporto pode ajudar a desenvolver a economia e atraindo turistas e investidores.

 

André Jordan – Na Eles&Elas 298 – Nas Bancas

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O empresário que trouxe a qualidade a Portugal

André Jordan é um dos mais bem-sucedidos empresários a trabalhar em Portugal. Chegou ao nosso país quando a vida ainda se fazia a preto e branco, mas mesmo assim teve a capacidade de ver o brilho e a cor da nossa terra. Viu potencial no turismo, desenvolveu projetos de urbanismo e investiu na qualidade. Depois do Belas Clube de Campo e da Quinta do Lago, entre outros, segue-se o Lisbon Green Valley, mais um projeto que muito promete.

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Anselmo Ralph – Na Eles&Elas 297

É o cantor angolano que mais sucesso tem feito em todo o mundo, e Portugal está rendido à sua voz e aos ritmos quentes que nos traz. Anselmo Ralph brilhou recentemente no The Voice, no horário nobre da televisão pública, e lançou agora o disco “Amor é Cego”, que apresentou ao público português num grande espetáculo no Campo Pequeno. A Eles&Elas conversou com o artista nessa ocasião e ficou a conhecer melhor o cantor e o homem que tem colocado África a soar nos nossos ouvidos.

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Leia o Artigo completo na Eles&Elas 297

Yolanda Soares – Na Eles&Elas 294

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Yolanda Soares é uma das mais completas artistas portuguesas – tem o Fado na alma, o lírico na voz, e nas veias corre-lhe o gosto por vários géneros musicais que se fundem de forma única na música que produz. Prestes a lançar um novo trabalho, intitulado “Royal Fado”, inspirado em “Óperas de Amália” e produzido pela própria com a participação brilhante da ex-harpista da Casa Real de Inglaterra e embaixadora de “The Prices of Wales’s Children” e da “Arts foundation”, Claire Jones, e do percussionista e produtor musical galês Chris Marshall, Yolanda conversou connosco sobre o conceito que criou neste CD, o Romantismo e o Fado, e deixou-nos entrar no seu mundo fantástico.

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