Quem será o herdeiro?

Quem será o herdeiro?

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O dia 2 de julho de 1953 está marcado a letras de ouro na história do Reino Unido. As ruas de Londres voltaram a ganhar o brilho que tinham perdido durante guerra e os súbditos espalhados por todo o território britânico prepararam-se para algo único: o coroar de um monarca e a esperança de um mundo novo que era protagonizada pelo casal Isabel e Filipe. Ninguém queria perder a oportunidade de vivenciar um pouco desta história real, mesmo sem estar presente na Abadia de Westminster.

Pela primeira vez, uma vez que a televisão começava a dar os seus primeiros passos, o país e o mundo puderam ver uma franzina jovem, de apenas 26 anos que, após a morte de seu pai, o Rei George VI, empunhava o cetro e a coroa de Saint Edward pela primeira vez e jurava dedicar a vida para salvaguardar os destinos de milhões de pessoas, unidas entre si, ainda que em pontos opostos do mundo. As cassetes que continham a gravação desta cerimónia voaram até à Jamaica para que pudessem ser difundidas, às primeiras horas da manhã, em Kingston, capital do país.

Desde a data da coroação, já passaram 67 anos e muitas são as histórias para contar. Mas se houve algo que marcou o reinado de Isabel II, durante todo este tempo, foi o seu dever de Estado e a força que ainda mantém para marcar presença nos momentos mais importantes na vida do país, como é a abertura parlamentar ou as habituais mensagens de Natal.

Modesta, empenhada e uma mulher de família. Estes são alguns dos adjetivos utilizados para descrever a estadista que é a monarca com o mais longo reinado do mundo. Sobre uma possível sucessão, pouco se sabe, mas os primeiros lugares na lista de sucessão ao trono são ocupados pelos príncipes Carlos, William e George.

 

Carlos, o paciente

O nascimento do príncipe Carlos a 14 de novembro de 1948, no Palácio de Buckingham, marcou o início de uma nova geração na família real.

Com apenas 3 anos, o jovem príncipe de Gales e herdeiro do trono, compareceu ao lado da avó materna e da princesa Margarida na cerimónia de coroação da mãe, a Rainha Isabel II, na Abadia de Westminster. Depois da cerimónia religiosa, que foi longa e com alguns incidentes a registar, como o de uma das aias da coroa a desmaiar com o calor, a família voltou para o palácio para uma receção.

De regresso a Buckingham, a Rainha retirou da cabeça a coroa que anteriormente pertencera a seu pai. Por várias vezes, a monarca relatou a dificuldade que sente em movimentar-se com o pesado adorno de 91 quilogramas de ouro trabalhado e inúmeras pedras preciosas. Foi ao pousar a coroa num móvel que Carlos tentou pela primeira vez alcançar aquela que é a principal joia do tesouro e traço máximo do poder. Males maiores foram impedidos devido aos reflexos rápidos de uma das amas que tinha como função vigiar de perto o pequeno herdeiro e a bebé Ana, os dois primeiros filhos da recém-coroada rainha e do príncipe Filipe.

Tal como o pai, que concluiu os estudos na Escócia, também Carlos foi enviado para o Gordonstoun College. Esta instituição que, no decorrer dos anos 60, apenas aceitava rapazes de famílias aristocráticas, primava por um estilo de ensino militar, mesmo de acordo com os alunos. O exercício físico, os banhos frios e as caminhadas matutinas pelas verdejantes florestas envolventes eram comuns para o pequeno príncipe.

Assim que se tornou o herdeiro ao trono do Reino Unido, Carlos foi honrado com o título de Príncipe de Gales. Vários anos depois, em 1969, o príncipe foi o protagonista de uma cerimónia que teve tanto de majestoso, como de histórico. O Castelo de Caernarfon, que é Património Mundial da Humanidade, recebeu esta cerimónia onde, de forma oficial, assumiu o título e envergou os paramentos reais. O jovem oficial da Marinha discursou em gaélico (esta foi a primeira vez que um membro da família real fazia um claro esforço para aprender esta língua) perante uma numerosa plateia de onde se destacavam a Rainha, o príncipe Filipe e a princesa Ana, sempre muito próxima do irmão mais velho. Só que o primeiro discurso oficial do Príncipe de Gales não foi consensual para todos os setores da sociedade e chegou mesmo a provocar alguns focos de violência entre os independentistas gauleses.

Com o percurso académico concluído e com provas dadas na Marinha, a formação do futuro Rei continuava com a participação em reuniões governamentais e com o estudo aprofundado da História e dos costumes dos 16 países que compõe a Commonwealth.

No que toca à vida amorosa, que foi sempre conturbada e marcada pelas manchetes nos jornais, tomou um novo rumo no dia em que foi anunciado o noivado (e posterior casamento) com Diana Spencer, antiga educadora de infância. Com apenas 19 anos de idade, a jovem loira de sorriso tímido e olhar enigmático era escolhida para se tornar a esposa de um dos solteiros mais cobiçados do mundo. Tal como aconteceu com a cerimónia de coroação da Rainha Isabel II, cerca de 750 milhões de pessoas em todo o mundo, assistiram em direto ao “sim” dos noivos.

Desta forma, começava uma nova vida para Carlos. Casado e pai de dois filhos, William e Harry, o príncipe passou a dedicar todo o seu esforço aos grupos marginalizados de centros urbanos, que apoiava através do programa Prince’s Trust. Já Diana, a “princesa do povo”, tornou-se na mulher mais fotografada do século XX e um alvo constante do assédio dos fotógrafos, que tanto a seguiam para momentos de diversão na costa da Riviera francesa, como para as viagens ao continente africano, onde era uma voz ativa na defesa dos doentes com HIV e no alerta contra a proliferação das minas antipessoais. Mesmo concentrado no trabalho, Carlos não conseguia esconder aquela que seria o amor de sua vida, Camila Parker Bowles. O final dos anos 80 trouxe o período a que a imprensa apelidou “guerra dos galeses”. Carlos e Diana trocavam acusações de adultério e a separação deu-se em 1992.

A década de 90, que chegou a ser apelidada pela Rainha de “annus horribilis“, terminou com o acidente do túnel das Almas, em Paris, que vitimou a mãe de William e Harry e o seu namorado da altura, Doddy Al-Fayed (herdeiro dos armazéns Harrods). A morte de Diana foi um dos momentos que mais abalou a monarquia britânica na história recente. Homens e mulheres de todas as idades e estratos sociais acorreram ao Palácio de Buckingham, um dos mais bem guardados edifícios do planeta, para depositarem flores e prestarem homenagem àquela que, embora já não sendo princesa, continuava a reinar nos seus corações.

Os anos foram passando e a imagem de Carlos, enquanto príncipe paciente, mudou aos olhos dos britânicos. Carlos, que se casou com Camila em 2005, aos poucos começou a assumir um papel cada vez mais preponderante no seio da família real, sendo cada vez mais habitual vê-lo ao lado da Rainha em cerimónias protocolares ou receções a dignitários estrangeiros. O que permaneceu imutável foi a preocupação que tem pelo ambiente, temática que lhe é bastante querida. Sempre que planta uma árvore, o príncipe de Gales faz questão de tocar num dos ramos para desejar uma boa e longa vida.

William, o guerreiro

A manhã de 21 de junho de 1982 amanheceu chuvosa na capital britânica. À porta do Hospital de St. Mary acumulava-se uma pequena multidão de populares e jornalistas que, apesar do mau tempo, queriam ser os primeiros a ver o recém-nascido. William Wales era o nome que estava escrito na ficha médica do bebé que, acabado de nascer, já tinha os “olhos do mundo” postos sobre si. As primeiras pessoas a visitar a criança e os pais, Carlos e Diana, foram os avós John Spencer e Frances Kydd e a Rainha Isabel II.

Wills ou o “pequeno tornado”, nome carinhoso pelo qual era tratado pela princesa Diana, foi uma criança brincalhona e curiosa que fazia o encanto dos jornalistas sempre que aparecia em público, fosse num simples passeio no parque ou na varanda do Palácio de Buckingham, a assistir a uma parada militar ao lado das tias, as princesas Ana e Sarah.

Na primeira aparição pública que protagonizou, William e os pais visitaram a Catedral de Llandaff, em Cardiff. Finda a visita, o príncipe demonstrou ser canhoto ao assinar o livro de visitantes da Catedral. À saída, a família recebeu um “banho de multidão”. Milhares de pessoas quiseram cumprimentar o príncipe, e até oferecer-lhe flores, ao que agradecia com um envergonhado “obrigado”.

A vida familiar dos irmãos William e Harry ficou abalada com a separação de Carlos e Diana, em 1992. Tal como milhares de outros jovens, os netos da Rainha de Inglaterra passaram a dividir o tempo entre os progenitores. Foi durante um verão que os irmãos, acordados pelo pai e pelos avós, receberam a notícia que jamais queriam ouvir: a mãe tinha morrido. Com apenas 15 anos, William caminhou atrás da charrete que carregava o corpo de Diana até à Abadia de Westminster. Foi neste local, que recebe as cerimónias mais marcantes da família real, que decorreu a cerimónia fúnebre da “Princesa do Povo”, eternizada por Elton John no tema “Candle in the Wind”.

O percurso académico do futuro Rei e Chefe das Forças Armadas Britânica iniciou-se no Eton College, onde estudou Geografia, Biologia e História da Arte. Só que antes de ingressar na vida académica, e tal como muitos jovens, William decidiu tirar um ano sabático (gap year, em inglês). Esse ano foi dividido entre o trabalho voluntário, no Chile e em vários países africanos, e um estágio do exército no Belize.

Em 2001, o herdeiro da coroa britânica foi aceite na Universidade escocesa de St. Andrews. Foi durante o percurso universitário que William conheceu e se apaixonou por aquela que viria ser a sua mulher: Kate Middleton. Nascida seis meses antes do futuro monarca, Kate é filha de Michael e Elizabeth Middlenton, antigos funcionários da British Airways, tornados milionários após a abertura de uma empresa especializada em festas infantis. Tal como o príncipe, a jovem de cabelos castanhos também optou por um ano sabático antes de entrar na Universidade de St. Andrews. Foi nesta instituição de ensino que se formou em História da Arte e conheceu o filho mais velho de Carlos e Diana.

O namoro de Kate com o herdeiro da família real inglesa durou vários anos, tendo sido apelidada pela imprensa inglesa, onde fazia capa diariamente, de “Waity Katie” (ou “Kate em espera”) pelo pedido em casamento que teimava em não chegar.

Durante este tempo, trabalhou na cadeia de lojas de roupa Jigsaw (propriedade de amigos da família) e deu asas à sua paixão pela fotografia. Kate foi vista em vários momentos importantes da vida de William. Em 2010, pouco antes do anúncio do casamento, largou o trabalho que tinha e mudou-se para o País de Gales, passando a viver bem perto de William.

O anúncio oficial do noivado de William e Kate foi tornado público através de um comunicado da Clarence House, residência oficial do príncipe Carlos. Na primeira entrevista dada pelo casal, as lentes dos fotógrafos focaram-se no pormenor que se destacava na mão da noiva. O anel, que brilhava perante as luzes, tinha feito parte da coleção privada de joias de Diana.

O casamento dos duques de Cambridge realizou-se no dia 29 de abril de 2010, na Abadia de Westminster, e o governo decretou feriado nacional pelo acontecimento. Este enlace, que fez lembrar o protagonizado pelos pais de William, 30 anos antes, foi transmitido pelo YouTube e o momento do beijo na varanda do palácio foi aplaudido por uma multidão que empunhava bem alto a Union Jack, bandeira que marca a união do Reino Unido.

William prestou serviço na Marinha Real Britânica e foi piloto de busca e resgate da Força Aérea Real da Grã-Bretanha, no País de Gales. Durante os sete anos que passou nas Forças Armadas, o tenente de Gales, como era conhecido pelos colegas, realizou inúmeras operações de resgate onde os ventos fortes e a baixa visibilidade eram as condições de trabalho normais para o habilidoso piloto, que passou para a reserva quando nasceu George, o seu primeiro filho. William e Kate, que são primos em décimo quinto grau graças à família Fairfax e ao Rei Eduardo III, também são pais de Charlotte (5) e Louis (3).

Muito querido pela Rainha Isabel II, William prepara-se desde há muito para suceder à avó na liderança dos destinos britânicos e tem um peso cada vez maior na família real. Quando subir ao trono, o duque de Cambridge será conhecido como William V.

 

George, a criança mais famosa do mundo

Se há algo que os britânicos adoram, quase tanto como a família real, são as apostas. Nada melhor que conjugar estes dois “amores” na tentativa de descobrir qual seria o nome do primeiro filho do casal William e Kate. Durante nove meses, esta gravidez foi acompanhada de perto por todos. Aliás, ainda antes de nascer, o pequeno príncipe britânico era descrito pelo The Washington Post como “a criança mais famosa do mundo”.

Um futuro Rei de Inglaterra iria nascer e nas listas dos nomes mais votados nas casas de apostas, George destacava-se. Era o nome com o maior número de apostas, pois seria uma homenagem ao Rei George VI, pai da Rainha.

A 22 de julho de 2013, aquele que foi o dia mais quente do ano, nasce George Alexander Louis. O nascimento do filho mais velho do apaixonado casal, que se tinha casado três anos antes, foi celebrado nas ruas de Londres como um momento de glória nacional, incluindo brindes com champanhe e 21 salvas de tiros de canhão. À saída da maternidade de St. Mary, Kate fez uma alusão à princesa Diana, escolhendo a mesma cor de vestido para apresentar o primeiro filho a todos que os aplaudiam na rua.

Proteger George ao máximo da exposição mediática é o grande objetivo de William e Kate, que pretendem que os filhos tenham uma infância o mais aproximada possível do normal. Passeios no parque com a avó materna e idas à padaria com o pai são algumas das situações em que os britânicos podem encontrar o jovem príncipe, que adora ajudar na cozinha e comer pizza.

O pequeno príncipe e a irmã Charlotte frequentam a Thomas’s Batters, escola situada no centro de Londres e local onde são tratados como qualquer outra criança. A somar ao currículo escolar, George tem aulas de dança todas as semanas, algo que tem em comum com a avó Diana, que em pequena sonhava ser bailarina. Em vida, Diana apaixonou o mundo a dançar com John Travolta numa receção na Casa Branca.

A Austrália e a Nova Zelândia foram as nações escolhidas para a primeira viagem oficial de George ao estrangeiro. Mas não foi apenas fora das fronteiras britânicas que o pequeno príncipe teve a oportunidade de conhecer vários líderes internacionais. A partir do Palácio de Buckingham, uma imagem correu o mundo: o filho de William aparece de pijama e roupão branco a cumprimentar Barack Obama, que estava de visita ao Reino Unido.

 

Estes são os homens que um dia governarão os destinos do Reino Unido, mas por enquanto continuaremos a ouvir no hino inglês a frase “God Save The Queen” (“Que Deus salve a Rainha”).

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