Eles&Elas305- Storytailors

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STORYTAILORS

JOÃO BRANCO O PRECURSOR IRREVERENTE E CRIATIVO CONTADOR DE HISTÓRIAS

Querido João,
Foi há 11 anos que, com o Luís, recebeste o Prémio Revelação Moda naquela grande festa que comemorava o 26º aniversário desta ELES&ELAS Lifestyle.
Como esperava, o vosso Storytailors, foi percorrendo o caminho do sucesso muito merecido que sabemos o Luis Sanchez vai continuar por este nosso país e além fronteiras, com a grande inspiração que nunca lhe faltou. Este ano vesti um exclusivo lindíssimo que criaram para mim e que fez enorme sucesso, na Festa do 37º Aniversário das revistas que dirijo. Há pouco tempo cozinhaste para nós aquele maravilhoso risotto …e muito conversamos. Neste número a Clara Pinto Correia é capa com a vossa obra conforme estava acordado!
A revista transcreve e dedica-te a entrevista que vos fizemos há 11 anos no dia daquele belo aniversário quando eras ainda uma grande promessa e onde todos sorrimos juntos.

Como é que tudo começou. Quem são os Storytailors?
Luís – Tudo começou na Faculdade de Arquitectura, no curso de Design de Moda, éramos da mesma turma e funcionávamos muito bem em grupo.
No terceiro ano, começámos a desenvolver algumas ideias em conjunto e no quarto ano criámos um projecto em comum. Com o passar do tempo, começámos a desenvolver uma espécie de reacção àquilo que é o sistema de moda, que é acima de tudo um sistema muito comercial. A nossa ideia era subverter o sistema, queríamos mudar as coisas.De onde surge essa reacção ao convencional? Essa vontade de quebrar com os padrões tão patente no trabalho que desenvolvem?
Luís – Tem haver com o nosso conceito de estética, que vai contra aquilo que se está a viver: o minimalismo. Um dos grandes e graves problemas dos cursos que dizem respeito à moda é que os professores são muito tendenciosos, ou seja, se estiver a viver um período em que está na moda determinado conceito, os alunos têm de se reger por esse mesmo conceito, em vez de se promover a criatividade e o desenvolvimento de uma linguagem estética própria. Os alunos são muito limitados na criação da sua noção de estética.
João – É revoltante este sistema de ensino. Há pessoas com imenso talento, com ideias fantásticas que acabam por desistir porque não criam resistências a esse mesmo sistema, que teima em agir de forma incorrecta, castrando a criatividade. E foi neste meio que começámos a ser reaccionários e que se criou a Storytailors.

Como surgiu o nome Storytailors?
João – Sempre tivemos consciência de que o factor comunicação iria ter um grande relevo no projecto, porque ao ritmo a que a sociedade vive e respira, quando se depara com uma iniciativa nova, tem de fazer uma associação quase que imediata com aquilo com que se encontra, para se sentir interessada. Nós assistimos a um boom de criadores, e na década de oitenta começaram a aparecer os criadores vedeta, ou seja, brilhavam mais do que o próprio trabalho que desenvolviam. O nosso projecto não passa por aí. Nós não queremos ser criadores vedeta; nunca quisemos vender o produto passando por nós e também não queríamos ser mais dois nomes no mercado. Queríamos que a designação do próprio projecto tivesse uma componente criativa de criador, mas, por outro lado, que fosse uma palavra conceito, ou seja, o projecto deveria ser válido por si e comunicar-se a si
próprio, daí a palavra Storytailors. Depois, teve a ver com dois aspectos que eram intrínsecos ao projecto, primeiro, pelo aspecto quase artesanal da construção de peças de vestuário, associado à palavra tailors, que é a designação que melhor comunica esta vertente técnica. E em segundo lugar, pela existência de uma história, que basicamente é qualquer relato metafórico, que é sempre alvo de grandes pesquisas. Daí este nome e esta designação. Com esta pesquisa, o que nós queríamos era criar um projecto que fosse suficientemente interactivo, para não só interagir com o consumidor, mas para interagir com outras áreas artísticas. A Storytailors não é só um projecto de criador, onde este é magnânimo e faz tudo, nós queríamos promover uma fusão de energias com o processo criativo, com os briefings iniciais, com centenas de temas… despoletar, também, noutras pessoas de outras áreas profissionais adjacentes à nossa, um tal interesse, que de alguma forma fizesse com que estas interagissem com o nosso projecto.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                São reaccionários em tudo na vida? O vosso trabalho é, no fundo, o espelho de tudo aquilo que vocês são?                                                                    João – Nós somos pessoas de contrastes. Acho que tem haver com os nossos signos… são elementos opostos, por isso temos uma postura muito agri-doce, no que diz respeito à vida pessoal e profissional. Somos muito analistas e auto-criticos. Somos, acima de tudo, muito particulares, temos opiniões muito próprias, e a nossa vida e o nosso tempo é o projecto Storytailors e é provável que durante os próximos cinco anos seja assim. Sobra-nos muito pouco tempo para o lazer. A dedicação é o segredo para o sucesso de um projecto. E nós dedicamo-nos a cem por cento.

está bem definido?
Luís – Sim, o mais possível. O João dedica-se mais aos desenhos e eu funciono quase como um director de arte.
João – Nós sabemos quais são os nossos pontos fortes e como tal não vemos qualquer impedimento à intervenção de outras pessoas, para além disso nós discutimos ideias, não as sobrepomos umas às outras. Eu tenho uma facilidade muito grande em criar ligações temáticas, em ver numa  perspectiva tridimensional, em desenhar e em criar histórias. O projecto tira proveito destas capacidades, obviamente. O Luís é uma pessoas extremamente minuciosa, muito perfeccionista, que tem uma visualização brutal para processos de confecção e de acabamentos, para além disso, é muito mais prático do que eu. As capacidades dos dois complementam-se. As colecções Storytailors são alusões a histórias, à fantasia… são quase como que um motor para a imaginação…
João – Tem a ver com o desenvolvimento do sistema criativo que nós utilizamos, que é: vamos criando e semeando ideias que podem ou não advir de uma pesquisa histórica. As referências históricas que nós utilizamos no processo de desenvolvimento de ideias é, no fundo, um assumir dessa pesquisa fundamental para o desenvolvimento do nosso trabalho. Somos apaixonados pelo imaginário, pelo misterioso mundo da fantasia, por tudo o que foge aos padrões reais. Temos uma história que apelidamos de “Rainha das Rosas” da colecção Outono/ Inverno 2004/2005, que é uma mistura um pouco surreal da Alice no País das Maravilhas com a história da Rainha Santa Isabel. A nós não nos interessam contos de fadas adulterados, tal como existem hoje em dia, interessa–nos o conceito de uma metáfora ou de um relato metafórico, que são as histórias. Ou seja, tudo o que serve como espelho da sociedade, utilizando uma linguagem metafórica, é alvo de interesse e de pesquisa. Quando entrei no mundo da moda, quando escolhi este meio como opção de vida, entrei sem preconceitos rigorosamente nenhuns em relação ao meio e a tudo o que o envolvia. Não conhecia nem me interessava por marcas…e adorei o que se podia fazer em moda, o que é que o vestuário poderia ser, de que forma é que o poderia
trabalhar. Adorei a forma como volumetricamente se constrói o vestuário, o que este pode representar a nível libertador o que pode representar para quem o veste. Ao nível da psicologia do vestir, funciona quase como uma espécie de cura. Hoje em dia as pessoas têm vidas extremamente
violentas e precisam de tudo o que as rodeia para se defenderem e sentirem-se melhor consigo próprias, e o vestuário deve ser uma ferramenta para isso. Luís – A fantasia é tudo aquilo com que não nos cruzamos no dia-a-dia, é um escape. Acho que vivemos numa sociedade que precisa de ter um maior contacto com o fantástico, com o imaginário, com tudo o que nos eleva a um patamar mais puro, talvez um pouco naíve.

Como nasce uma criação Storytailors?
João – Nasce muito espontaneamente, ou seja, estamos a trabalhar uma colecção e já estamos a ter ideias para a próxima. Por vezes tudo começa numa conversa de café.
Luís – Temos muita consciência relativamente à sociedade actual, estamos sempre atentos ao que se passa à nossa volta, vamos reunindo elementos, começam a surgir ideias… fazemos esboços que vão despertando caminhos, e depois sim, sentamo-nos e delineamos ideias, às vezes são quatro, outras vinte, mas felizmente multiplicam-se sempre. Ao contrário do que se possa pensar, não temos um tema, temos um argumento. Num argumento tudo é mais flexível, e nós somos flexíveis no que diz respeito ao nosso processo de criação.

Inspiraram-se em alguns criadores?                                                                                                                                                                                  João – A Storytailors foi a conclusão que nós tiramos dos anos de formação, de tudo aquilo com que concordávamos e tudo com o que não concordávamos. Para darmos andamento a uma ideia, existem uma série de pressupostos que têm de se ter em conta. Temos de parar e observar primeiro, analisar o que está feito, o que se está a viver, porque é que se está a viver neste momento, o que é que se conclui, e a partir daí, o que é que se pode criar de novo. No início deste projecto tomámos contacto com uma série de criadores que libertaram muito a moda em vários aspectos relacionados com a fantasia e o imaginário. Havia o Christian Lacroix e o Jean-Paul Gaultier na década de oitenta, mais tarde veio o Galliano e o McQueen, e nós estávamos a assistir a tudo isto. Em paralelo a escola de moda belga estava a afirmar-se com um tipo de filosofia estética e de moda diferente, e a Bélgica foi um país que soube tirar muito partido e valorizar a moda belga. A ideia do minimal e do conceptualismo nasceu um bocado dessa escola. Nós, enquanto Storytailors defendemos um conceito e um projecto de raiz totalmente inovador, mas é óbvio que valorizamos e apreciamos o trabalho de outros criadores.

O facto de vocês aparecerem no mercado com um conceito diferente e inovador criou algumas resistência por parte do grande público?
João – Nós temos um projecto activo e agressivo, é uma espécie de terrorismo doce, nós optámos por trabalhar com a cor, com formas às vezes quase arquitectónicas, que esteticamente são muito fortes, e as pessoas para se defenderem, por vezes reagem atacando.
Luís – Utilizamos a cor como algo terapêutico, como meio de comunicação de uma ideia concreta. Nós queremos despertar emoções. Tocar as pessoas com o nosso trabalho. Queremos gerar uma reacções. As cores dizem muito sobre a nossa personalidade.

Hoje em dia ainda faz sentido falar em tendências da moda?
João – A tendência de moda foi uma estratégia de marketing que fazia sentido, e fez sentido ser criada e desenvolvida, mas que nos dias que correm
está obsoleta.
Luís – Hoje em dia não existe uma tendência, existem dez ou mais. O leque de escolha é imenso e penso que a tendência é uma questão de estética
e que cada vez mais se dissocia da peça de vestuário. Tudo acaba por entrar em contradição. Acho que cada pessoa deve vestir aquilo com que se sente bem. É isso que nós promovemos: o bem estar, a felicidade de cada pessoa que veste uma peça Storytailors; pretendemos fazer com que todo o processo seja uma experiência diferente, única.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              Estão a pensar apostar no estrangeiro?
João – O próprio facto do nome do projecto ser inglês visava a comunicação internacional. É a língua mais universal. Nós sempre tivemos consciência que dada a necessidade e exigência criativa do projecto, este seria sempre sinónimo de investimento e nós não queríamos que o projecto fosse um parasita do sistema, e um parasita do sistema seria um projecto meramente criativo que nunca seria autónomo para se financiar. E este é sem dúvida um projecto muito exigente a nível financeiro, requer um investimento imenso. E a única forma disto ser possível era o projecto situar-se no mercado nacional. Mas sim, queremos dar a conhecer o projecto lá fora.
Luís – Também é um enorme desafio tentar mudar as coisas por aqui. Nós aqui tivemos hipótese de criar em Portugal imagens e trabalhos que lá fora nunca teríamos oportunidade de fazer, porque estamos a falar de mercados que se encontram numa outra fase evolutiva em que tudo é muito mais difícil e dispendioso. Penso que em Portugal as pessoas que poderão colaborar connosco estão muito mais receptivas.                                                                                                                                                                                                                                                                                                      Se criassem um personagem baseado num conto, que vos representasse a vocês próprios, qual seria?                                                                        João – Ás vezes penso nisso…só me consigo lembrar do coelho da Alice no País das Maravilhas, sempre a olhar para o relógio e a dizer que está atrasado para tudo. Por vezes falta-me tempo.
Luís – Seria sem dúvida uma personagem de Tim Burton. São românticas, misteriosas e têm um sentido de humor por vezes um bocado mórbido. Acho que me identificaria.
O que levariam para o “país das fadas”?
Luís – Levaria o mar. Tendo em conta que não conheço o país das fadas, e que poderia não haver mar… faz-me bem, tem um efeito relaxante… não conseguiria viver sem mar.
João – Levaria uma garrafa de oxigénio. Afinal, não conheço nem faço ideia onde seja o país das fadas.
Falem-me de projectos futuros…
João – Estamos a recriar o ambiente e o espaço Storytailors. Nós queremos ter condições privilegiadas para receber as pessoas que procuram Storytailors, queremos proporcionar-lhes uma experiência única, queremos mimá-las, queremos que se sintam especiais.
Luís – Este espaço vai permitir-nos dar outras condições a uma série de pessoas, vai permitirnos dar a conhecer o projecto e a sua essência.

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