Joias da Rainha Maria Antonieta

Este slideshow necessita de JavaScript.

A importante casa de leilões Sotheby’s vive constantemente momentos de grande tensão e ansiedade a cada arremate milionário, o que não será novidade, mas em meados de novembro, em Genéve, a tensão foi enorme durante o leilão de joias da Rainha Maria Antonieta, que em 1793 sofreu a guilhotina durante a Revolução Francesa.

Entre os lotes havia várias peças de extremo luxo e requinte da sua coleção, mas um dos lotes superou todas as expectativas: um peculiar pingente de diamantes com uma grande pérola em forma de pera, arrematado por 32 milhões de euros, valor nunca antes atingido por uma peça semelhante que foi alvo de uma emocionante luta até ao final entre André White ,diretor do departamento de joias da Sotheby’s, representante do vencedor e outro licitador. Para se ter uma ideia, o primeiro lance foi de cerca de um milhão de dólares, o que era uma estimativa esperada que tal como as outras oscilavam entre um e dois milhões de euros, mas avaliações muitíssimo mais baixas do que o preço final atingido . A intensa luta entre os interessados elevou extraordinariamente o valor pago, que ultrapassou o da Pérola Peregrina, até então a mais valiosa do mundo (pertenceu a Elizabeth Taylor), vendida por 9 milhões de euros, em 2011, por outra grande casa de leilões: a Christie’s.

Só pelo facto de serem vistas num evento público pela primeira vez em 200 anos já seria um acontecimento histórico. Mas o leilão daquela quarta-feira de algumas das joias usadas pela rainha Maria Antonieta, já é considerado como um dos mais importantes de sempre nesta área. Entre as peças que a casa real de Bourbon-Parma pôs à venda e que puderam ser licitadas encontravam-se tiaras, colares, brincos e pendentes, um extraordinário grupo de joias, nunca visto em público, que “oferece um olhar sobre as vidas dos seus donos”, reforçou Daniela Mascetti, diretora da leiloeira Uma viagem pela história da casa de Bourbon-Parma, ligada a algumas das famílias reais mais importantes da Europa, onde se incluem reis de França, de Espanha e, claro, imperadores da Áustria, de onde descendia Maria Antonieta, filha da Imperatriz Maria Teresa.

Uma coleção de cem peças onde se destaca o pendente de diamantes com uma pérola natural do século XVIII, alfinetes de peito com pedras preciosas avaliados em 250 mil euros, um conjunto de diamantes e até uma tiara (esta já do século XX feita para a arquiduquesa Maria Ana da Áustria, princesa de Bourbon-Parma), avaliados em 500 mil euros, são outras das jóias da coroa que foram a licitação.e das quais soubemos que várias foram arrematadas para Eugénie Niarchos, neta do grande armador Niarchos que foi casado com a primeira mulher de Onassis.
A Shotheby’s, responsável por este leilão, considerou este espólio como uma das coleções de joalharia mais importantes de sempre a aparecer no mercado

Prémios Femina 6 Notáveis recebem Prémio Fémina 2018

Este slideshow necessita de JavaScript.

Segundo João Micael, Presidente da Associação para o Desenvolvimento da Cultura e do conhecimento, este prémio, inspirado na Infanta Dona Maria de Portugal, última descendente de Dom Manuel I, digna representante da Era de Ouro de Portugal e Grande Mecenas das Artes e Ciencias, é a Patrona desta associação que juntamente com a Comissão de Honra agracia as mais notáveis Mulheres portuguesas e lusófonas que tenham contribuído para o prestígio de Portugal e da No espaço Aura Lisboa foram agraciadas: Conceição Zagalo, Vereadora da Câmara Municipal
de Lisboa e presidente da GRACE-Grupo de Reflexão e apoio á Cidadania Empresarial recebeu o Prémio Honra;
Mayra Andrade, Cabo Verdiana, chegou de Paris para receber o Prémio Mérito nas Artes e Letras;
Maria de Jesus Trovoada, Ministra da Saúde em São Tomé e Príncipe, recebeu o Prémio Mérito nas Ciências;
Susana Damasceno, por seus atos Humanitários em prol da dignidade e direitos humanos , recebeu o Prémio Mérito Excelência;
Helena Carvalho Pereira, pelo estudo e Divulgação da Cultura e História da Matriz Portuguesa no Estrangeiro e Lusofonia recebe o Prémio Mérito Património Baronesa Antoinette de Lukás, húngara, recebe o Prémio de categoria excecional para mulheres de nacionalidades extra portuguesa e extra lusófona, pelo contributo e seu exemplo em obras de conduta e estudo, a todas as Mulheres do mundo. Mérito Ad Femina Mundo. Estas Mulheres, com currículos de enorme relevo que encheriam mais páginas do que todas as desta revista, como por exemplo Conceição Zagalo que foi distinguida pela Amnistia Internacional, juntamente com 25 Mulheres de todo o mundo etc. ou Mayra Andrade que venceu o prémio BBC Rádio ou a World Music em revelação, Medalha de Ouro nos jogos da francofonia, no Canadá. Colaborando em duetos com Cesária Évora, Chico Buarque e num álbum de Charles Aznavour… etc. e Maria de Jesus Trovoada que para além de Ministra é investigadora em diversos projetos de investigação na área da genética, tendo sido em 2010 uma das 10 cientistas selecionadas para constar do livro ”Vidas a descobrir: Mulheres Cientistas do Mundo Lusófono” etc… ou Susana Damasceno que fundando há 12 anos a AIDGLOBAL que propõe tornar possível que todas as crianças portuguesas e moçambicanas tenham acesso á educação e aos livros… passando á superano Helena de Carvalho Pereira que, sendo Vice-presidente do Sintra Estúdio de Ópera, aposta na divulgação e reabilitação do bom nome dos compositores esquecidos e arquivados nas principais bibliotecas de música portuguesas.
A Eles&Elas dá os parabéns ás agraciadas e ao impulsionador do acontecimento, João Micael, presidente da Matriz Portuguesa.

ELES & ELAS 305

CAPA:
Clara Pinto Correia | 4
PREMIÈRE:
Globos de Ouro 2019 | 14
NÓS:
Rita e Francisco Casaram | 32
ELA:
Michelle Obama | 26
ELE:
João Branco | 34
ENTREVISTA:
Inês Pedrosa | 46
PREMIÈRE:
Prémios Femina | 52
TESOUROS:
Joias Rainha Maria Antonieta | 58
LIVROS:
As Famílias Reais nos nossos dias | 64
DESFILE:
Teresa Martins | 68
DESFILE:
Fátima Lopes | 78
ENCONTROS:
Livraria – Bar Menina e Moça | 88
CRÓNICA:
Paula Bobone | 94

Julho 2019

Eles&Elas305- O TEMPO VOLTA PARA TRÁS NO FIM DE 2018

Este slideshow necessita de JavaScript.

Uma nova Agenda é um ”livro” essencial para o nosso dia-a-dia. Chega o tempo de olhar para o futuro como um assunto sério e fazer algumas previsões. Acaba um ano e que fazer com a agenda que agora encerrou? Eu guardo as agendas há muitos anos e gosto de as ter numa caixa, nem sei para quê. Com a chegada da Internet mudou tudo mas os tempos normais devagarinho voltam para trás e eu não prescindo da minha agenda na carteira…. e o computador não faz muita concorrência nalguns registos. Os projectos, o dinheiro, as coisas que nos pedem e os imprevistos irão preenchê-la com mais um ano de vida. Não há teorias nem abstracções. A Agenda no princípio do ano é um a companhia séria que nos propõe linhas orientadoras que nos fazem pensar em aspectos da nossa vida e talvez formatá-la e criar alguns projectos. Há que encontrar uma direcção e tomar atitudes.

Em Janeiro do ano passado tive almoços com bons amigos, a Gisela, a Filomena, Miguel Nunes, Carmo. Fui ao programa da TVI em conversa com o Goucha. Fui a médicos vários fazer o check ups, jantares no Grémio Literário e consultei a SPA. Recuperei um pequeno gravador que me apoia como registo de ideias, de projectos. Foi um mês marcante e também uma amostra de como os tempos mudam e mudam-se as
vontades. Em Fevereiro tive na Universidade Lusófona, um belo cerimonial de atribuição dum prémio ao
grande poeta italiano Corrado Calabró que ama Portugal e lançou um livro de poesias traduzido na nossa língua. Foi um sucesso e de seguida o Embaixador de Itália em Portugal convidou-nos para um jantar de homenagem ao poeta naquele maravilhoso espaço, Palácio Pombeiro, que é a belíssima Embaixada em Lisboa e a gastronomia não podia ser mais requintada. Um dia depois partia eu para o Porto para os anos da minha cara amiga Maria Augusta Osório de Castro já de há muito conhecida pelas grandiosas celebrações de aniversário com convidados de todo o País. A arte de receber no Porto, é notável. Desta vez a festa foi no Club de Leça.

De regresso a Lisboa tive um almoço no Ritz com o editor Jaime Cancela de Abreu para preparar um novo livro que veio a ser lançado e do qual falarei e recomendarei. Fui aos anos da minha queridíssima amiga Leonor Stau Monteiro, numa das casas mais belas e acolhedoras desta cidade, mal sabíamos que dentro de pouco tempo ela nos deixaria. Não a esquecerei pela sua bondade e beleza. Continua a fazer-nos falta. Poucos tempos depois ainda neste mês o grande intelectual da nossa cultura, Pedro Passos Canavarro lançava um livro no Museu de Arte Antiga, muito concorrido. Belíssima ideia esta. Adorei. Entretanto almocei num grande restaurante do Chiado com a minha amiga Clementina Paiva, interessantíssima
personalidade. Como às 3as feiras houve mais um chá delicioso no Grémio organizado tradicionalmente pela Palmirinha Fino. Muito divertido, com mulheres mais velhas e apreciáveis. E no fim de semana partimos para uma grande quinta na Lousada a convite do primo José Fortes da Gama, na simpática companhia do casal Poças Pereira. Foi uma animação memorável. E no fim de Fevereiro estivemos presentes na inauguração da BTL. Valeu a pena.

O Turismo português não pára. E com o tempo a passar acumulam-se as memórias de agradáveis al-moços em casa da família Vilela, em Cascais, com a querida Galerista Ana Dâmaso e muitos são os jan-tares sociais e culturais no Grémio Literário. Até que chegam as razões para as grandes viagens, como Nova York onde se matam saudades com a família mais chegada e amigos queridos e de notáveis car-gos culturais. Regressando a Lisboa, lá vou eu para o Algarve dar as aulas as minhas queridas alunas da Hopelanda que a Patricia Dominguês criou com sucesso há tantos anos. E estacionada em Lisboa mandou a Agenda idas à Embaixada de Itália, Co-cktails na Cordoaria com arte, a maravilhosa festa dos 80 anos da Madadena Bras Teixeira no Palácio Fronteira , jantares no Gremio, Lanches com a família no Hotel do Chiado, jantares com amigos como a Cle-mentina Paiva, o Mário Chiapetto, almoços na Garrett em Cascais com bons amigos e a bela viagem com a família d’Orey em peso a Berlim, visitando a casa do seu famoso antepassado da Prússia. Mais jantares a convite do Patrick Degryse, presidente do American Club. Desfiles de moda no El Corte Inglês a convite da amiga Susana Santos. E mais idas ao jardim do Gremio e as belas sardinhadas. Muitas foram as vi-sitas culturais ao Museu de Arte Antiga e ao Palacio da Ajuda, cujos directores são extraordinários. Mais umas idas às televisões por motivos de trabalho para falar do meu novo livro, TVI Você na TV, à Record e a outros canais e blogs curiosos. Dias Nacionais de Luxemburgo, Turquia, Japão, não podiam falhar. E mais almoços em Cascais com queridas amigas e a grande festa de 80 anos da Ana Maria Caetano que foi estrondosa, no Palacio da Cruz Vermelha onde nem Marcelo falhou. Cocktails no Farol Hotel cuja anfitriã Ana Maria Tavares recebe maravilhosamen-te ali mesmo à beira mar. Tambem convidei para uns jantarinhos simpáticos alguns grandes amigos e lá viajámos desta vez para Madrid onde os Museus e Palácios nos solicitaram.

De regresso foi o tempo dos convites para casamen-tos. Festas de sonho como o da Gabriela Faria de Oliveira, e outro estrondoso casamento de um impor-tante amiga angolana que escolheu o Palácio do Be-ato e de vários outros sobrinhos, festas magnificas e memoráveis sem deixar de referir um muito especial da minha amiga Margarida Ruas, em Colares. Foi um esplendor. E o Miguel Freitas da Costa celebrou um linda festa dos 50 anos de casados no jardim Palacio da Ajuda. E o Jantar de anos do Salvador Correia de Sá, a exposição da grande artista Leonor Asseca. E os diversos jantares de despedida do casal Hiroaki Sano que lá partiram para Tóquio , que saudades. Mais um aniversário do António Ponces de Carvalho, umas idas à habitual Moda Lisboa que nunca perco, os almoços da Filomena Soares na paradisíaca casa de Porto Covo, e o desfile de Fátima Lopes no Hotel Pestana Palace que foi um estrondo. Jaime Cancela de Abreu, editor da Prime Books propôs o lançamento do meu livro mais recente EDUCAÇÃO QUEQUE que teve alem desta belíssima apresentação no Grémio, uma outra na tradicional Bertrand do Chiado. Surgiu a ideia de oferecer os ganhos deste meu livro a Fun-dação UFFI da Elena Ravano Calheiros para apoio a uma importante causa: investigação para a cura da doença de surgiu nas suas duas amorosas filhinhas, a Ictiosis. Ela muito agradeceu e eu pessoalmente ainda mais pois fazer um livro dá muito trabalho e destiná-lo a uma causa que não sejam os lucros, fe-z-me bem ao coração. Entretanto conclui um outro livro que laçarei em breve com a querida Filomena Soares “Wedding Planner e Protocolo”. E também fui à bela festa no Casino do Estoril da Clinica Milénio, fui ao Jantar dos Conjurados onde conheci novos amigos , fui a Sopas Solidárias, aceitei o convite da Fundação Ricardo Espirito Santo ver belíssimos tra-balhos de decoração, Não me faltaram os cocktails do Jorge Welsh, no CCB, Jantares na Casa de Veva de Lima e outros tantos simpáticos almoços e jantares com amigos queridos como foi o da Margarida Prieto, Eduardo Santos Silva, primos d’Orey……. Foram 365 dias. Bem vividos, e sempre próxima da Eles e Elas, da querida Luz Bragança que me propôs este apreci-ável mas apressado registo. Perdoem algumas falhas mas as Agendas são o que são: humanas. E errar é humano. Até já.

P.B.

Eles&Elas 305- Livraria-Bar Menina e Moça – A Utopia da Rua Cor de Rosa

Este slideshow necessita de JavaScript.

Conheci a Cristina Ovídio quando ela era Coordenadora Editorial da Oficina do Livro, que estava prestes a publicar um romance meu pela primeira vez, o NO MEIO DO NOSSO CAMINHO. Era bastante mais nova do que eu, mas possuía uma erudição literária que raramente se encontra em alguém. Além disso era extremamente elegante, vestia-se de uma maneira extremamente criativa – e, por trás de todos aqueles caracóis de um louro veneziano raro completados por um tereré de cabedal atrás, era uma miúda linda. O trabalho em conjunto transformou-se rapidamente em amizade, assim como cada livro se tornou rapidamente um debate cada vez mais promissor. Depois destes primeiros passos, estive uns anos fora de circulação. Lembro-me como se fosse ontem de quando a reencontrei no metro: no meio de toda a confusão da hora de ponta, ia sentada com um ebook no colo, a ler com tanta intensidade que parecia pendurada sobre ele como uma águia no cimo de uma árvore a examinar atentamente a sua presa. A partir daí trabalhámos juntas a escrever, e devo-lhe a coragem de publicar o meu romance sobe os GE de Moçambique NÃO PODEMOS VER O VENTO, e, com um cuidado e uma sensibilidade absolutamente excepcionais, a minha biografia do Manuel Jerónimo UM HOMEM TEM DE LUTAR. Por essa altura já ela congeminava uma qualquer forma de mudar de vida, e às vezes, se houvesse tempo, íamos falando de fragmentos desses seus novos planos. Até que, dois meses depois de regressar a Lisboa, fui descobrir os seus novos domínios: o espaço de sonho MENINA E MOÇA, uma livraria-bar mesmo no fim da Rua Cor de Rosa, no Cais do Sodré. Foi aqui, com a casa cheia, que tivemos a nossa conversa.

Sempre foi isto que quiseste fazer?
Eu fiz o curso de Letras porque só queria era, de uma qualquer forma, ter livros a toda a minha volta. Depois de me licenciar comecei por fazer um estágio de Jornalismo de Investigação na SIC mas não gostei, não gostei nada daquele ambiente. Passei a ser consultora literária na RTP para o programa QUEM CONTA UM CONTO, e então, ao fim de uns tempos, e para minha grande surpresa, convidaram-me para professora de Português no Colégio Ramalhão.

Mas que reviravolta.
Foi uma reviravolta muito boa. Dar aulas é maravilhoso, e eu fiz com as minhas alunas toda a espécie de coisas animadas para elas começarem a gostar mais de livros.
E depois é maravilhoso ver as alunas voarem, exactamente como as águias voam. Foram anos magníficos. Depois, estava eu grávida da minha segunda filha, apareceu a editora Clube do Autor. Começaram por convidar-me para ser revidora, incluindo de revisão científica. A seguir passei a Coordenadora Editorial, que inicialmente fiz até ao fim do meu último 12º ano no Ramalhão. E sabes, é bonito… não quiseram terminar o meu contrato. Deram-me antes licença sem vencimento.

O TRABALHO EM CONJUNTO TRANSFORMOU-SE RAPIDAMENTE EM AMIZADE, ASSIM COMO CADA LIVRO SE TORNOU RAPIDAMENTE UM DEBATE CADA VEZ MAIS PROMISSOR.

E depois? Ser professora no Ramalhão fazia-te feliz. A seguir o que é que te fez feliz no Clube do Autor?
Gosto de trabalhar com o autor, e fez-me feliz estar bem preparada para esse trabalho. Gosto de poder dar sugestões que façam o livro melhor. No meu caso, mais especificamente, sentia-me especialmente bem se conseguisse ajudar o autor a ter boas ideas no que respeita a ver-se livre de desnecessidades e de gorduras.

Hey! Não me lembro de me chateares uma única vez com as minhas gorduras!
Está bem, mas tu não tens gorduras.

Vindo de ti, isso é mesmo bom de ouvir.
Então, mas é verdade. Se tivesses gorduras, eu dava logo por elas. A edição é uma espécie de maladie, às tantas já nem consegues distingui-la da tua própria vida. E isso é incrivelmente bom porque te remete para um verdadeiro estado de Utopia. Se não houver Utopia, a vida não se aguenta. Entusiasmei-me tanto com o meu trabalho no Clube do Autor que acabei por criar um verdadeiro Comité Editorial para a triagem dos livros, para fazermos a organização de um plano editorial inteiro em cada ano.

Bem, mas o Clube do Autor era uma editora comercial especialmente virada para os best-sellers, certo?
E não publicou seis livros teus, quatro deles romances originais e um deles uma biografia de um proletário, extremamente difícil de vender, sabendo perfeitamente, desde o primeiro dia, que tu não fazes minimamente o género autor de best-sellers? Os best-sellers permitiam era que a editora pudesse sobreviver sem problemas financeiros – e passavam pelo nosso Comite Editorial, tão seriamente como todos os outros livros. Para lá desse aspecto, conseguimos ser francamente inovadores no que diz respeito a escolher revisores, escolher tradutores, escolher o texto da capa, até desenhar a própria capa. E tudo isto me fazia feliz, mas eu também sempre vivi com o sonho de ter um espaço só meu desde que me meti na edição. Por isso, quando me senti pronta, comecei à procura de um bom sítio para concretizar esse sonho.

GOSTO DE TRABALHAR COM O AUTOR, E FEZ-ME FELIZ ESTAR BEM PREPARADA PARA ESSE TRABALHO.

“TUDO, DE TODAS AS MANEIRAS”
O encanto deste lugar que eu inventei é não ser nem um bar, nem uma livraria, nem sequer uma mistura inactiva e inespecífica de ambas as coisas. Claro que as pessoas podem vir cá só beber uns copos ou comprar uns livros. Mas o que é diferente é poderem ter, também, acesso a destilações do melhor que estas duas faces artísticas podem oferecer-nos.
Repara.
No Menina e Moça temos um programa permanente com diferentes estilos garantidos a quem quiser cá vir. Às terças, brindamos as pessoas com música Swing; às quartas, fazemos uma tertúlia chamada o Rendez-Vous Menina e Moça; às quintas, quinzenalmente, oferecemos um programa de Jam Literature; e aos domingos temos uma verdadeira Jam Session de Jazz associada a apresentações de livros, de leituras de poemas, e de homenagens aos grandes escritores da nossa língua, como o David Mourão Ferreira, o Alexandre O’ Neill, o Cesário Verde, ou o Fernando Pessoa. Enfim, o Menina e Moça é uma história longa de desejo de evasão e de viagem. Claro que tudo isto só foi possível, desde o primeiro dia, com a ajuda sólida de quem conhece as fundações de uma casa. Quem se empenhou mais em ajudar-me foi o Henrique Vaz Pato. Como até o Adriano Moreira nos recorda, só a águia voa sozinha, para mim foi fundamental ter também o apoio de bons e antigos amigos. Devo dizer que a missão de Professora é, como sabes bem, das mais nobres da vida. A edição é uma paixão mas tenho uma alma de cigana. Gosto de rua e do Céu de Lisboa. Estar só entre quatro paredes, numa casa editorial, limitava a minha vontade de sentir tudo de todas as maneiras, como diria o Álvaro de Campos. Estar na rua é como a Poesia. É a minha maneira de ser livre.

É interessante teres-te sentido pronta para um plano assim tão arriscado em pleno mandato da Troika.
Precisei de imenso apoio, como é evidente. E o meu marido, o Henrique, que tem aqui dois restaurantes, funcionou sempre como o meu parceiro natural. Também fui à Câmara Municipal de Lisboa falar com a Catarina Vaz Pinto. E comecei a pensar em pessoas do meio literário que pudessem vir trabalhar comigo. Só a águia é que voa sozinha. Eu não. Então e voaste para aqui como? Tão bem situada, mesmo com a porta aberta para a animação nocturna da Rua Cor de Rosa, e ainda por cima mesmo ao lado do teu marido? Olha, há coisas, realmente. Onde estamos agora havia um restaurante incaracterístico chamado O CARDO. Às tantas fechou, e a única coisa que o senhorio para queria o trespasse era um conceito com ideias. Meti logo os papeis para segurar a loja. A preparação para a abertura coincidiu com a morte dos meus pais, uma daquelas coisas em que não adianta de nada estarmos preparados: é sempre, um terramoto. Mas não parei de trabalhar. Trouxe alguns dos livros deles para aqui, para me fazerem companhia. A ideia do MENINA E MOÇA é mesmo essa: juntar todos os prazeres num único espaço. Até as decorações, os postais, a mobília, foram desenhados à mão, e só existem aqui.

MAS O QUE É DIFERENTE É PODEREM TER, TAMBÉM, ACESSO A DESTILAÇÕES DO MELHOR QUE ESTAS DUAS FACES ARTÍSTICAS PODEM OFERECER-NOS.

E agora o que é que queres?
Continuar a crescer cada vez mais, para fazer as pessoas cada vez mais felizes.

 

Clara Pinto Correia

Eles&Elas305- Fátima Lopes

Este slideshow necessita de JavaScript.

Revolução no mundo dos estereótipos de medidas na moda.

Numa altura em que se exige o direito à diferença e a indústria da moda internacional começa a estar recetiva à diversidade de corpos e medidas,
Fátima Lopes apresenta pela primeira vez em Portugal, uma manequim CURVY.
Inspirada pela sua natureza profunda, a do seu signo astrológico “Peixes”, criou uma estética original que combina elegância, sensibilidade e sensualidade.
A Mulher peixes é intuitiva, extremamente criativa e sedutora, e assim, a criadora imaginou uma coleção hipnótica e sensual, embalada por cores e formas cativantes e cintilantes, subtilmente refinadas e reminiscentes da magia do mundo aquático.
Escamas de peixe em pailletes, bolhas de água em padrões de seda, ondas do mar em mousselines de seda drapeadas e entrelaçadas ou em variações de rendas recortadas e preciosas. A coleção pretende valorizar o corpo feminino, desde os triquinis aos vestidos de noite ultra sofisticados, passando pelos Tailheurs e uma grande diversidade de vestidos. As linhas são femininas, poéticas e misteriosas, num jogo gráfico e geométrico de modernidade.
As misturas de materiais são uma constante, entre padrões em viscoses, sedas com rendas, opaco e transparências subtis, embalados pela harmonia e romance das cores de jade, limão, rosas, vermelhos, azuis, nude, branco e preto.

Eles&Elas305- Teresa Martins foi Sucesso!

Este slideshow necessita de JavaScript.

A personalidade eclética de Teresa Martins tem-na levado a múltiplos interesses que vão desde a pintura, à Moda e Decoração, mas a sua atual paixão é a TMCollection uma marca de moda, que inclui para além do vestir, a criação de acessórios de bijouteria, malas, carteiras e bolsas, preocupando-se com produtos e tecidos naturais de cores orientais sempre embelezados pela sua arte criativa. Teresa fez espetáculo com as danças que colocou no palco do Portugal Fashion atirando pétalas de rosa em belos bailados asiáticos. O estilo hippie do seu pensamento encheu a assistência de alegria e palmas. Parabéns Teresa

Eles&Elas305- Inês Pedrosa – O Monte dos Vendavais

Este slideshow necessita de JavaScript.

Inês Pedrosa é uma daquelas pessoas que sempre quiseram ser escritoras, e por isso mesmo se deixou fascinar pelo mundo do Jornalismo Escrito desde muito nova. Aos dezanove anos já era estagiária do semanário O Jornal, de onde não demorou muito, pelo conjunto dos seus interesses e pela qualidade da sua escrita, a passar para o JL, então também semanário. Mais tarde vamos encontrá-la n’O Independente, e por fim a escrever semanalmente as primeiras crónicas feministas do nosso jornalismo generalista, apropriadamente intituladas “CRÓNICA FEMININA”. Depois de seis anos na direcção da Casa Fernando Pessoa, dedicou-se agora ao seu trabalho ainda menos conhecido: enquanto participa no debate semanal “O ÚLTIMO APAGA A LUZ”, criou a pequena editora independente “SIBILA”, uma homenagem a Agustina Bessa-Luís dedicada exclusivamente ao romance feminino. É por enquanto uma editora minúscula, mas vale a pena ler qualquer um dos seus oito títulos: já não há muito em Portugal quem se dedique exclusivamente à literatura de grande qualidade de forma independente, e muito menos com pouco dinheiro e nenhum acordo de troca de contratos ou de influências. Num país de literatura absolutamente estagnada, há muito que o que Inês procura oferecer-nos é, literalmente,
“O MONTE DOS VENDAVAIS”.

Sempre quiseste ser jornalista, ou ires lá parar foi um acaso?

Eu sempre quis ser escritora, mas sabia que escrever romances, em princípio, não bastaria para sobreviver. E então, como apareceu entretanto o curso de Ciências da Comunicação na Universidade Nova, entusiasmei-me com a ideia do jornalismo escrito, pensando que me daria mundo e traquejo de escrita para me tornar uma melhor escritora.

Lembro-me perfeitamente de ti quando entraste para O Jornal, onde eu trabalhava, sobretudo porque se metia pelos olhos dentro que a tua qualidade, como jornalista e como escritora, era absolutamente acima da média. Mas como foste é que transitaste do Jornal para o JL, um veiculo de cultura de critérios muito mais exigentes?

Fui parar a O JORNAL batendo à respectiva porta e oferecendo-me para um estágio, aos 19 anos, quando ainda estava na Universidade, porque o meu pai me azucrinava o juízo, bradando que eu ficaria desempregada. Deram-me uma reportagem-teste e aceitaram-me, para um estágio gratuito de três meses, que depois se prolongou por um ano. Então, o António Mega Ferreira, chefe de redacção do JL, ia tornar-se semanal e precisava de ter pelo menos um jornalista, chamou-me (creio que por sugestão da jornalista que já se tinha interessado muito por mim n’O Jornal, a Clara Pinto Correia). A posição incluía um lugar pago, embora parcamente pago, porque já nessa época se entendia que as pessoas da Cultura vivem do sopro da inspiração. Mas enfim, nenhum jornalista que não fosse dono de coisa nenhuma recebia assim tanto como isso.

Qual foi o trabalho que gostaste mais de fazer até hoje, e o sítio ou período onde te sentiste mais feliz – e porquê?

O trabalho de que verdadeiramente gosto é o de escrever romances; não há felicidade comparável à dessa maratona intensa e intensamente solitária. Mas, na minha vida profissional extra-literária, o trabalho de que mais me orgulho foi o que realizei na Casa Fernando Pessoa, durante seis anos, com pouquíssimos meios e com a comovente colaboração de muita e variada gente, do Caetano Veloso e da Maria Bethânia, que se apresentaram gratuitamente na Casa, à de muitos escritores e artistas, e à da população lisboeta anónima que participou em inúmeras maratonas de leitura e em recitais. Criámos o Clube Pequenas Pessoas, para as crianças, e desenvolvemos um trabalho intenso com as escolas, em particular as dos bairros mais desfavorecidos, a partir de um livrinho que escrevi sobre a vida de Pessoa, acompanhado de poemas e jogos de palavras, que estava disponível para descarregar na net, para poder ser utilizado em qualquer escola. Inesquecível o êxtase dos miúdos ao descobrirem a poesia, os heterónimos, as múltiplas possibilidades das palavras.Não há maior degratificação do que a de sentirmos que prestámos um verdadeiro serviço público.
Por outro lado, os sítios onde me senti mais feliz foram o JL e O Independente. Éramos poucos, e muito novos, e queríamos mudar o jornalismo e o mundo, por esta ordem.

Alguma vez mudaste coisas importantes na tua vida por amor? E por causa de ter filhos?

Não. Quando me aceitaram n’O Jornal, o estudante de Belas Artes que eu namorava há dois anos disse-me que, se eu começasse a trabalhar, teria de acabar o namoro, porque eu passaria a ser uma jornalista e ele era ainda apenas um estudante. Esse desgosto foi uma lição de vida: nunca aceitar um amor que não nos respeita nem aceita a nossa realização pessoal. A educação é um exemplo, pelo que nunca deixei de fazer nada por causa da minha filha, de modo a ensinar-lhe o valor do trabalho, da independência, e de um projecto de vida autónomo.

Quantos anos tinhas quando te aventuraste a escrever um romance pela primeira vez? Lembras-te de como é que te sentiste nessa altura – e quanto dessa sensação ainda persiste?

Tinha doze anos quando escrevi o meu primeiro, e péssimo, romance. Escrevi outro aos quinze, e depois muitos contos e poemas. Os estudos e os jornalismo ocuparam-me completamente entre os 19 e os 27 anos; começara a escrever um romance quando Nelson de Matos, então editor da Dom Quixote, me telefonou, dizendo: «Quando acabar o seu romance, eu quero publicá-lo». Perguntei-lhe, interdita, como é que sabia ele que eu estava a escrever um romance; e ele respondeu-me que se notava pelo novo tom dos meus textos jornalísticos. Então disciplinei-me, cortei todas as saídas e fins de semana, e concluí em um ano e meio A Instrução dos Amantes, que viria a ser o meu primeiro romance publicado – graças ao estímulo do Nelson, a quem ficarei para sempre grata por essa profissão de fé na minha escrita.
A sensação de exaltação e medo que tive dessa vez mantém-se, sim. Como sabes, um romance é uma descida aos nossos abismos mais profundos e uma ascensão a um conhecimento que ignorávamos ter, até começarmos a escrever. Exige uma inocência, uma espécie de candura face à vida – mesmo, ou sobretudo, quando o que temos para narrar é terrível. Cada novo romance é o recomeço de um universo – o que nos impede de envelhecer e envilecer.

Depois de uma longa ausência nos EU, cheguei a Portugal e descobri, numa página inteira do Expresso, a tua Crónica Feminina. Foi assim que fiquei a saber, ou a imaginar, que agora eras a feminista de proa da nossa geração — ou não é em assim que te vês? Como se deu em ti essa maturação para o feminismo? E, a partir daqui, que papel constante sentes que isso desempenha em ti e contigo – no sentido em que a Shinead O’Connor uma vez disse, por exemplo “happily, the first word my daughter ever said was NO!”

Agradeço-te a distinção, mas não sei se sou a feminista de proa ou de popa – nem me interessa; o que me interessa é dar a minha contribuição para um mundo mais justo. A minha maturação feminista deu-se através de um terramoto chamado “Novas Cartas Portuguesas» que li aos 12 anos, de fio a pavio, porque estava escondido numa gaveta dos meus pais. Transfigurou-me de corpo e alma enquanto menina, mulher e escritora, não só pelo que naquele livro me era revelado, mas também pelo modo como me era revelado. Eu não sabia que a língua portuguesa podia ter aquela plasticidade, nem aquela potência erótica e letal. Tenho-o relido muitas vezes, e sei que este livro é um monumento literário da dimensão do Livro do Desassossego, ao qual ainda não foi feita justiça – porque é de mulheres, e trata da discriminação das mulheres, pois. Depois, fui lendo muita coisa que me formou e impressionou . Por exemplo, O Segundo Sexo da Simone de Beauvoir, The Feminine Mistique da Betty Friedan, A Mulher Eunuco da Germaine Greer… E, acima de tudo, fui observando a diferença de expectativas, exigências e tratamentos atribuídos a homens e mulheres, só por serem homens ou mulheres.Diferença que persiste, para lá da mudança das leis, ou que até se agrava precisamente por causa da evolução legislativa: as mentalidades resistem muitíssimo à mudança. Uma dessas crónicas que escrevi durante muitos anos no Expresso levou alguns leitores a sugerirem-me que lançasse um abaixo-assinado para conseguir um indulto para uma enfermeira condenada a oito anos de prisão por prática de aborto – e tivemos a alegria de conseguir essa libertação, através desse abaixo-assinado de perto de três mil assinaturas, em 2003. Anos mais tarde, através da luta de muitas mulheres e homens – uma luta em que tive a felicidade de participar activamente – conseguiu-se finalmente legalizar a interrupção voluntária da gravidez. Mas ainda há muito caminho a fazer até à efectiva igualdade. Não quero que a minha filha tenha de bater o pé para conseguir um salário igual ao dos homens que trabalham ao seu lado, como eu tantas vezes tive de fazer, nem que explicar que não está disposta a fazer de cheerleader ou de mascote em embaixadas de celebração do génio masculino. Já chega desse desgaste.

Tens recebido tratamentos malevolentes por causa do que é geralmente entendido como o teu feminismo?
Claro: faz parte do pacote. Tenho recebido tratamentos malevolentes, tenho sido insultada de perto e de longe, fui perseguida quanto ao melhor do meu trabalho ( na Casa Fernando Pessoa, pois), e muitas vezes desconsiderada enquanto escritora. Mesmo assim, não é nada que se compare ao que passou com a Maria Teresa Horta, que chegou a ser fisicamente agredida na rua – agora os detractores do feminismo já não se atrevem a tanto. Não tenho dúvidas de que o combate feminista tirou à Teresa muitos prémios literários, e é obviamente uma vergonha para o júri que não lhe tenham dado ainda o Prémio Camões – mas os seus livros continuarão aí para fascinar gerações e gerações de amantes de poesia. Acresce que a ira é uma musa valente, e a aprendizagem da pulhice é muito útil a quem escreve romances, pelo que não me posso queixar. Além disso, tenho muitos e bons leitores, estou a acabar o doutoramento sobre Milan Kundera, acabei de ter um romance publicado nos Estados Unidos pela Amazon Crossing que vai publicar outro romance meu já em Junho, e publicarei em Fevereiro um novo romance, “O Processo Violeta”, na Porto Editora. As sacanices irritam-me temporariamente, mas depois transformam-se em gás adicional para os meus projectos

Em que papel é que te vês, ou de que de que é que te sentes incumbida, no presente programa de debate e comentário na RTP3, O ÚLTIMO APAGA A LUZ? E que reacções é que tens dos espectadores anónimos?

Gosto muito de fazer o programa, porque gosto de televisão, de política e de debater ideias. Não represento ali nenhum papel senão o de alguém que pensa em voz alta, e se possível com algum humor, sobre o mundo contemporâneo – no fundo, é um prolongamento do meu trabalho de romancista.Acho que funcionamos bem em equipa, entendemo-nos, com as nossas diferenças, e temos um ponto em comum que é muito importante: somos todos pessoas que pensam pela sua cabeça e que dizem livremente o que pensam, sem agendas de espécie alguma. E é o único programa de debate televisivo semanal com total paridade de género.Os espectadores reagem cada vez mais assiduamente e com crescente simpatia, o que significa que a audiência do programa está a subir. Também recebemos críticas contundentes por causa desta ou daquela opinião, claro – o que me parece muito saudável, porque é sinal de que não vivemos numa sociedade monolítica.

E agora uma pergunta daquelas mesmo de inspirar felicidade a qualquer um: depois de morreres,
queres que as pessoas se lembrem sobretudo de que
dádiva tua ao mundo?
Dos livros: que os leiam, que gostem deles, que se sintam acompanhadas por eles. E, claro, gostaria que as pessoas mais próximas recordassem o amor que partilhámos. Sei que recordarão, como eu me recordo do amor que recebi das muitas pessoas que amei e já não estão
neste mundo, mas que continuam a ajudar-me a viver

E tu, enquanto ainda vamos a tempo: o que é que gostavas, fundamentalmente, de dizer a TEU respeito antes de morreres?

Não me ocorre nada, a não ser que estou grata à vida, que me deu uma filha maravilhosa, um amor absoluto quando eu já não o esperava, e um grupo de amigos luminosos e firmes como faróis. Ah, sim. Também é importante dizer que me sinto infinitamente mais livre agora do que aos vinte anos. E que o aperfeiçoamento da liberdade é o que dá luz à existência.
Então vamos lá ao que deve ser o mais espantoso aperfeiçoamento da tua Editora: toda a sua coragem que te levou de mergulhar assim, sem defesas, naquele Shark Tank dos grandes conglomerados multinacionais de editoras interessadas em best-sellers e pouco mais.

Como é que tiveste a ideia, e qual é a coisa mais importante que gostarias de deixar dito sobre ela?

Bem, a ideia é muito antiga. Já a tinha na minha juventude. Sempre gostei de editar textos, de fazer títulos, de escolher imagens, da parte gráfica da edição. Quando, há seis anos, conheci o Gilson, que é designer e um leitor voraz, começámos imediatamente a falar de criar uma editora; há um ano, decidimos que, dado que estamos os dois no meio da nossa década dos cinquenta, se íamos realmente fazer alguma coisa, então agora ou nunca. Escolhemos o nome de “Sibila” em homenagem à minha muito querida Agustina Bessa-Luís e à capacidade profética e prática das mulheres, historicamente arredadas dessa História, que, no entanto, fisicamente depende delas. Começámos precisamente por publicar uma interessantíssima escritora libanesa ainda não publicada em Portugal – a Joumana Haddad – e depois por recuperar vozes esquecidas de mulheres escritoras. Pretendemos também vir a publicar ensaio, aí já de autores de ambos os sexos, porque ainda se publica muito pouco ensaio em Portugal. Iremos avançando solida e lentamente, porque o negócio da edição é, também ele, lento. A lentidão parecenos um valor a recuperar.

Diz-me quais consideras os teus três já livros já publicados mais indicados para oferecer como presente a alguém de quem nós gostamos – e porquê.

Antes de mais nada, o “Cartas Portuguesas”, uma edição que junta a tradução de Filinto Elísio das famosas cartas de Mariana Alcoforado a uma colectânea de «cartas de uma ilustre desconhecida», de 1821, que Nuno Júdice, organizador e prefaciador desta edição, suspeita terem sido escritas por Almeida Garrett. Duas vibrantes histórias de amor contadas através de cartas sumptuosas. Depois há o “Cinzas”, um poderosíssimo romance da esquecida Prémio Nobel italiana Grazia Deledda, numa edição que contém um CD do compositor e cantor Mariano Deidda, que musicou textos desta escritora genial. Finalmente, eu seleccionaria o “Mundo Novo”, o último romance de Ana de Castro Osório, reconhecida como uma proeminente feminista da primeira República e editora de Camilo Pessanha, que merece também ser reconhecida como a talentosa e arguta romancista que foi. O mundo novo a que se refere este romance muito autobiográfico é o Brasil, mas é também um mundo em que as mulheres terão o mesmo direito à autonomia e à realização pessoal do que os homens. Creio que qualquer um destes livros será um bom presente que testemunhe a nossa afeição por alguém, porque todos eles aprofundam o nosso conhecimento da  natureza humana, e das possibilidades da palavra.

Texto Clara Pinto Correia
Fotos Alfredo Cunha e Adriana Delgado Martin

Eles&Elas-305 Michelle Obama

Este slideshow necessita de JavaScript.

 

MODA, EXERCÍCIO, AMOR, MATERNIDADE, AUTOBIOGRAFIA, E PROVAVELMENTE A PRÓXIMA PRESIDÊNCIA

 

Nos sites de venda de lugares para o tour que Michelle Obama tem andado a fazer em promoção da sua recém-lançada autobiografia BECOMING, a foto da grande advogada saída das altas linhas de montagem da Universidade Pública de Chicago que ninguém no mundo conhecia mas que depois se tornou famosa de um dia para o outro enquanto a primeira Primeira-Dama preta dos Estados Unidos é mesmo, completamente, pop-star: o seu fundo azul a convocar o sonho de um céu optimista, o seu cabelo de marca que é muito comprido e todo esticado, o seu sorriso de marca que é sempre rasgado e de olhos nos olhos, bem, e vá lá… é que, depois, ainda cilindra completamente a audiência com aquele truque da roupa toda branca… com o ombro esquerdo todo de fora! Para quem não sabe, está de quilómetros e quilómetros e quilómetros de pele bem tonificada e bem esticada à vista, obviamente sem plásticas e antes com bons cremes e melhores ginásios, é mesmo-mesmo-mesmo marca Michelle. Muito respeitinho por esta senhora. O livro é capaz de ser só um pretexto.

Eu estava nos Estados Unidos há quatro anos, quando Michelle Obama, à época ainda Primeira-Dama, fez cinquenta anos. Foi em 2014 e nunca mais volta a acontecer nada assim. A quantidade de capas de revista que aquela fantástica supermodelo fez, Santo Deus, não dá para acreditar. E não foi propriamente uma feira de vaidades. Havia boas razões para tudo isto. Michelle Obama criou uma causa muito nobre, chamada LET’S MOVE. Destina-se a pôr os alunos americanos a comer alimentos verdadeiros e saudáveis, a fazer exercício, e a desta forma combater o papão assustador da obesidade nas crianças e nos jovens. Nessa altura, ela própria fazia questão de aparecer nas escolas públicas, nas zonas mais pobres de todas. Por falta de dinheiro e de educação, é sempre aqui se acumulam mais coach-potatoes dependentes da junk food, da Coca-Cola, do sofá lá de casa, e da televisão, para plantar hortas nas traseiras das escolas e demonstrar pessoalmente que fácil que é ter acesso aos vegetais de que o nosso organismo tanto carece, e para ensinar aos alunos rotinas simples de quinze minutos de exercício e drenagem por dia, baseados só na ginástica rítmica, na dança, e no hábito de beber sempre um litro e meio de água da torneira, e sempre pela mesma garrafa.
Para ser digna de representar este programa, antes de fazer cinquenta anos a própria Michelle anunciou publicamente que ia perder dez quilos para estar mais “ágil e flexível” na grande data. Foi quando descobriu a adrenalina dos ginásios e do auto-controlo das abstinências.
No fim daquilo tudo esticou o cabelo e cortou a franja, encomendou aos seus cinco estilistas de referência um vestuário mais leve e voador , e estava linda, linda, linda. Na capa da PEOPLE MAGAZINE aparecia numa foto de lado, com este mesmo sorriso luminoso de olhos brilhantes e seguros de si com que agora anuncia o tour do livro, dentro de um top de alças que lhe permitia mostrar bem os músculos do braço – e quer dizer, eram uns belos músculos, belissimamente definidos.
O meu ex é um democrata fumegante, um admirador incondicional do Obama, e ainda mais da Michelle; além de que tem um sentido de humor de uma crueldade maravilhosa. Chamei-lhe a atenção para aquela foto e ele disse logo: “A esta hora os Republicanos e os broncos do Bible Belt já deram em doidos, não é?… A Primeira-Dama dos Estados Unidos na capa da PEOPLE a mostrar os seus músculos… os seus músculos pretos!… ah, valeu a pena viver só para ver isto!” Agora, há fotos e fotos, assim como há capas de revista e há capas de revista. Michelle Obama podia ser só muito bonita, muito simpática, e defender uma grande causa numa super-poitência onde trinta por cento da população é obesa e descamba para a obesidade logo na infância.
Ninguém lhe pedia que fosse também extraordinariamente inteligente e uma grande profissional, mas nota-se. Naquela altura, notou-se muito. É que há muita notoriedade, que é uma coisa; e depois há imenso prestígio, que é outra coisa completamente diferente. Não basta dizer que as Primeiras-Damas americanas não costumam ser pretas, e não costumam aparecer em grande forma na capa da PEOPLE MAGAZINE quando fazem cinquenta anos.

Se a seguir dissermos que quando fez cinquenta anos a Michelle Obama fez a capa da VOGUE… isto sim, isto é um arrazo. Toda a gente sabe que a capa da VOGUE é outra conversa. Nesta capa é que não costumam mesmo aparecer pretas, a menos que sejam a Naomi Campbell, a Tyra Banks, ou a minha sobrinha Inês no dia em que quiser ser top-model. Estava linda, com um vestido comprido preto coleante e sem ombros do Atelier Versace, encostada às colunas de mármore da Casa Branca, naquelas fotos muito especiais que só a Anne Leibovitz é que sabe tirar. Não se sabia, manteve-se o segredo até à última hora, toda a gente foi apanhada de surpresa. E mais, que grande foto que ela fez. Pode ser uma advogada brilhante e estar a inspirar meio mundo no papel de Primeira-Dama, que não é por isso que deixa de fazer poses dignas de uma modelo profissional. This is still America.
Nesse mesmo aniversário, ao serviço dessa mesma causa, já depois das capas da PEOPLE e da VOGUE, a Michelle foi várias vezes à televisão. E aí, mesmo à laia de golpe de misericórdia destinado a mostrar ao público as vantagens de qualquer um se pôr a mexer e perder peso para se sentir bem, pulverizou logo o seu próprio record.

MAS A AMÉRICA TAMBÉM ESTÁ CHEIA
DE ORGULHO NAS COISAS BOAS E BEM
FEITAS, INDEPENDENTEMENTE DA
POLÍTICA E DA COR DA PELE.

Esta parte para mim é particularmente interessante, porque mostra claramente o que a América tem de melhor. Com certeza, está cheia de “inteligentes” que em oito anos não conseguiram cansar-se de dizer mal das políticas do Obama nem refazer-se da ideia de terem um presidente preto, a quem houve muita gente que não deixou de chamar macaco, ou, no mínimo, perigoso terrorista islâmico encapotado. A América está cheia das pessoas que votaram no Trump. Mas a América também está cheia de orgulho nas coisas boas e bem feitas, independentemente da política e da cor da pele. E é mesmo um país muito jovem, com uma capacidade experimental que a gente nem sabe se esta velha Europa alguma vez teve, com tanta monarquia e tanta guerra vindas tão lá do fundo dos tempos.
Acontece que as pessoas em Portugal quase que me comeram viva por causa de uma brincadeira que eu fiz uma vez na RTP2, e eu só tinha quarenta anos, e posso ser um bocado preta mas nunca fui nenhuma Primeira-Dama. Era apenas, na altura, a apresentadora de um programa de debate de grande nível intelectual, chamado TRAVESSA DO COTOVELO. Era tão sério, mas tão sério, que até se podia beber e fumar no estúdio, que imitava um bar onde nós estávamos a ter uma tertúlia, discutindo vários temas à vez. Cada um dos apresentadores fazia uma série de doze temas, e como a nossa sociedade estava a ficar cada vez mais abandalhada eu decidi que o meu último seria sobre a Queda do Império Romano. No fim, e isto era um segredo só entre mim e o pianista, eu citava o grande Will Durant, quando ele diz, exactamente sobre como foram possíveis as invasões bárbaras, “todas as grandes nações nascem estoicas e morrem epicuristas”. E acrescentava: “Querem ver o nosso futuro, se nós não fizermos nada?” Era a deixa. O pianista começava a tocar o PIMBA, PIMBA, e eu começava a dançar. Ou seja, abandalhava-se tudo.
O que eu levei na cabeça, por ter dançado na televisão em sinal de protesto.
Os anos subsequentes deram-me toda a razão, mas ainda hoje as pessoas que se lembram dessa noite só dizem “ela passou-se, passou-se.”
Isto é Portugal.
Entretanto, anos mais tarde, na América, a Primeira-Dama, que é preta e musculosa, e que fica linda em poses para as revistas, cria um programa de exercício para as escolas chamado, passa a vida a dar beijos ao marido e a dançar com ele, e como acabou de fazer cinquenta anos vai a uma data de programas de televisão.
E é então que tem todos os direitos que eu nunca tive nem terei.
Logo no primeiro late night em que apareceu, às tantas o apresentador fez-lhe um certo convite e ela disse logo que sim, com certeza. Começou de lá a bombar um bruto funk de dança. A Primeira-Dama levantou-se e pôs-se a dançar. É uma dançarina de cinco estrelas. E aquilo podia estar tudo previamente combinado que não foi por isso que fez qualquer diferença: nesse programa, e em todos os programas em que ela dançou depois, muitas vezes e em muitos estilos, os apresentadores, e os outros convidados que lá estivessem, ficavam todos de queixo caído, e não se cansavam de pedir mais. E o público fazia o mesmo. Era incrível. Uma Primeira-Dama preta, a dançar à preto, numa onda tão boa, com uma energia tão grande e tão salutar. This would be the day that I die.
O meu ex, por acaso, era das pessoas que me tinha dado na cabeça por causa de eu ter dançado UMA VEZ na televisão em sinal de protesto, no máximo durante uns cinco miseráveis minutos. Um dos argumentos dele, igual ao de toda a gente, era que causava descrédito uma Professora Doutora pôr-se assim a dançar sem mais nem menos. E eu então só lhe dizia, “Dick, isto ou há moralidade ou comem todos, a Michelle Obama é a Primeira-Dama do País Mais Poderoso do Mundo e ultimamente não faz mais nada senão pôr-se a dançar na televisão sem mais nem menos, mas como é que é, no caso dela já não causa descrédito?” Se ele alguma vez me respondeu, ou algum dos Portugueses que acham que eu me passei, foi com qualquer coisa como “mas a Michelle é uma dançarina maravilhosa, e dança para combater a obesidade dos Americanos”. Ok, está bem. Remeto-me à minha insignificância. Claro que em termos de dança nunca chegarei aos calcanhares da Michelle.
E também nunca fiz nenhuma capa da VOGUE.

 A MICHELLE É UMA DANÇARINA MARAVILHOSA,

E DANÇA PARA COMBATER

A OBESIDADE DOS AMERICANOS

Toda a gente sabe que lidar com os media não é fácil, e toda a gente subentende que a televisão é um meio particularmente cruel. Mas com esta Primeira-Dama não havia crueldade possível. Antes de mais nada, aos cinquenta anos a Michelle aparecia sempre giríssima na televisão, naquela base natural e simples, flexível como um junco e sorridente como uma Grande Mãe. Além disso, não me lembro de ela alguma vez ter ficado mal em alguma imagem ou alguma fotografia. Por essa altura, já lá iam mais de sete anos de Mundo Obama, o que quer dizer que até a Fox News, com todos aqueles comentadores completamente republicanos e todas aquelas apresentadoras loiras super-reaccionárias, tinha ganho um grande conhecimento de causa em relação à advogada de Chicago. E, de cada vez que o nome dela vinha à baila em algum debate ou noticiário, era sempre tiro e queda: uma pessoa dizia “Michelle” e outra pessoa atalhava“Oh, c’mon, Michelle’s a sweetheart!”
E foi assim, com toda aquela animação dos cinquenta anos e das danças do LET’S MOVE que começaram a perguntar-lhe o que é que ambicionava fazer quando o segundo mandato do marido chegasse ao fim, e ela começou a rir muito e a responder: “Watch out DC, here I come!”. Na altura pode ter sido só uma piada, mas agora há imensos democratas interessados em transformar a piada numa realidade. Aliás, não falta quem diga que esta autobiografia, acompanhada deste enorme book tour, apareceu agora já a preparar sabiamente o terreno para as próximas eleições. Hillary Clinton nunca conseguiu convencer realmente ninguém porque é a antítese da simpatia, e ainda por cima toda a gente sabia que ela tinha por trás o grande capital de Wall Street e da Indústria Farmacêutica, pelo que não podia estar mais feita com o Sistema. E, em grande medida, foi por já não tolerarem mais o Sistema que as pessoas votaram em Donald Trump.
Michelle tem todos os trunfos que Hillary não tinha. Além disso, neste momento o eleitorado Americano já comporta mais pretos que brancos.

MICHELLE TEM TODOS
OS TRUNFOS QUE
HILLARY NÃO TINHA.

E, ainda por cima…
Eh pá. Uma Mulher Preta na Presidência! Querem melhor? Não, estão a ver? O que os estrangeiros dizem, isso é tudo mentira. É tudo inveja. Neste País abençoado por Deus ninguém discrimina contra ninguém. Run, Michelle, run.
E depois, durante oito anos, houve ali um toque especial que fez mesmo muito bem à psique americana: foi o amor, carinho, e dedicação evidentes daqueles dois um pelo outro. Michelle e Barak eram o alto contraste de Trump e Melania. Além de terem ambos estudado muito e serem ambos muito inteligentes, tinham ambos um grande sentido de humor, eram ambos grandes pais para as suas filhas, e estiveram ambos sempre, sempre, sempre, visivelmente apaixonados, ao longo de oito anos extraordinariamente difíceis. Foi um dos comentários que os jornalistas não conseguiam deixar de fazer a propósito da festa dos 50 anos da Michelle, onde compareceram figuraças como a Beyoncé, o Paul MacCartney, ou o Samuel Jackson, mas não deixaram entrar ninguém dos media: as redes sociais ficaram cheias de posts de Michelle e Barack a dançar, e toda a comunicação social dizia, “oh this is so heart-warming, those two are always so much in love!”

E o amor é mesmo uma coisa muito bonita. Dá-nos asas.
Logo na primeira Grande Gala em que eles apareceram juntos depois das primeiras eleições, ainda o Presidente não tinha um único cabelo branco, Michelle trazia um vestido comprido branco desenhado pelo estilista de Taiwan Jason Wo. Barak estava de smoking. E foi só começarem a dançar para se perceber que aqueles dois já tinham dançado juntos milhões de vezes na vida. Sorriam um para o outro numa enorme felicidade, e era um coisa linda de se ver. Depois, de repente, o Presidente não aguentou mais. Parou de dançar, puxou a sua mulher ainda mais contra si, apontou para ela todo feliz, virou-se para todas as outras pessoas da pista de dança, e perguntou: “Isn’t she beautiful?”
“Beautiful” talvez seja pouco, se vamos usar um único adjectivo para caracterizar Michelle Obama.
É mais que Michelle Obama é absolutamente “outstanding”.